Mantém-se a guerra aberta entre a Câmara Municipal do Porto (CMP) e a TAP em relação à supressão de voos do Aeroporto Francisco Sá Carneiro. “Acho que ainda não chegou o tempo de nos calarmos”, disse Rui Moreira, esta quarta-feira, em reunião de câmara. Se a companhia aérea com 50% de capital público não reverter, total ou parcialmente, a sua “estratégia de desvalorização” do aeroporto do Porto, o presidente admite apelar à população do norte que boicote a TAP.

“Temos feito contactos com outras companhias aéreas”, disse Rui Moreira, respondendo ao vereador Alberto Amorim Pereira, que defendeu que, dada a decisão de manter a gestão da TAP privada, “fazer exigências é uma causa perdida“. Ao mesmo tempo que procura captar mais voos para o Porto, o presidente lembrou o apoio de outros autarcas da região Norte, bem como da Associação Metropolitana do Porto, da Associação Comercial e do Eixo Atlântico, para reiterar que a luta é para continuar. “Vamos fazer uma marcação à zona, dia-a-dia vamos apurar, temos uma equipa grande a trabalhar nisso”, sublinhou.

Se nada resultar, Rui Moreira partirá para a “próxima fase”: tentar afetar a estratégia comercial da companhia aérea apelando, no limite, à população da região Norte para que “não use a TAP“. “Temos sido uns carneiros. Temo-nos deixado iludir com promessas sucessivas”, lamentou o autarca, dando como exemplo a construção do TGV, que inicialmente previa a passagem pelo Porto e que, a acontecer, “vai ser só Lisboa – Madrid”. O investimento no novo porto de águas profundas no Barreiro, que servirá a região de Lisboa, em detrimento do investimento necessário ao Porto de Leixões, foi outro dos exemplos debatidos entre os vereadores.

Para o presidente, os 16 voos diários previstos entre Porto e Lisboa, anunciados pela TAP, foram criados apenas porque “há uma frota de aviões parada no Brasil”. “É o interesse da White e da Azul [ propriedade de David Neeleman] que está a ser privilegiado” e não o do Porto, acusou. A ponte aérea, aliada ao encerramento dos voos de médio curso para Roma, Barcelona, Bruxelas e Milão (Malpensa), e à criação de uma ligação direta entre a Vigo e Lisboa é, para o executivo portuense, uma estratégia para tirar os passageiros do Porto, sobrelotar o Aeroporto da Portela e, assim, forçar a construção de um novo aeroporto e, daí, “a terceira ponte, o TGV…”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Presidente da Câmara de Vigo considera pressão de Rui Moreira “intolerável”

“O presidente da Câmara de Vigo pediu hoje à Comissão Europeia para investigar as minhas palavras. O presidente da Câmara do Porto não recebe lições de Vigo”, disse ainda Rui Moreira, comentando uma notícia desta quarta-feira do jornal Faro de Vigo onde o seu homólogo Abel Caballero pede que Bruxelas investigue a pressão sobre o mercado livre. O autarca de Vigo está satisfeito com a abertura da ligação à capital portuguesa e teme que a decisão seja revertida.

Caballero sublinha que a decisão é da responsabilidade da companhia “privada” e lamenta a Invicta recorra a “pressões” para cancelar o voo e destruir o tráfego aéreo de Vigo.

Este é um dos “incómodos” que a luta pelo aeroporto Sá Carneiro tem criado. “Ao contrário do que tem sido dito por escribas pagos para isso, ouvi na televisão que a CMP tem patrocinado e financiado a Ryanair. É mentira. É mentira!”, lembrou ainda Rui Moreira, que à noite vai estar no Telejornal da TVI a discutir a questão.

“Se não suprime, já ganhámos alguma coisa”

Acusando a TAP de estar “neste momento está a trabalhar na contrainformação”, o autarca deu como exemplo o esclarecimento por parte da companhia de que o voo das 22h45 entre Lisboa e Porto, que servia de ligação à Invicta para os passageiros que vinham de voos de médio curso, a partir da Europa, não seria descontinuado, desmentindo uma comunicação do portal oficial da CMP de terça-feira. “O horário de verão da TAP entre o Porto e Lisboa integra também o voo de Lisboa que parte às 22h45”, disse a empresa à Lusa. No entanto, o Observador tentou encontrar voos no site da TAP para esse horário e ele não se encontra disponível. “Se não suprime, já ganhámos alguma coisa”, concluiu Rui Moreira, sobre o potencial recuo.

“Faro também já só tem um voo, para Lisboa. Para os Açores a TAP só representa 7%. Como é que é possível que os Açores tenham crescido com a chegada dos privados? A TAP neste momento não presta um serviço estratégico ao país. E o pior é ficar como empresa de bandeira, porque assim não podemos arranjar alternativas internacionais”, criticou Rui Moreira.

“Porque é que não pedimos à TAP que retire a lógica de bandeira?”, questionou o vereador Ricardo Valente. “Para que o Porto tenha a capacidade de gerir o seu aeroporto. Retira-se assim o monopólio.”

Notícia atualizada à 18h05. A entrevista de Rui Moreira será na TVI e não na RTP1.