“Ao contrário do que agora para aí sugerem, não tenho poderes ocultos em Bruxelas”, disse Pedro Passos Coelho em Oeiras, na Conferência da Plataforma Mais Futuro, Mais Portugal. O líder social-democrata disse que não era “um adivinho”, mas que a reação da Europa ao orçamento do executivo do PS era previsível. E, perante a vulnerabilidade evidenciada por Portugal nos mercados, diz que não quer que aconteça ao país “o que aconteceu na Grécia”.

“Não quero que aconteça ao meu país o que aconteceu na Grécia. Não quero que aconteça aquilo que aconteceu no passado”, declarou Pedro Passos Coelho, numa conferência em Oeiras, distrito de Lisboa, em que apontou como “muito significativo” o que se passou na reunião do Eurogrupo.

“Eu, como já ouvi esta conversa antes e já vi este filme aqui e lá fora, preferia que esse filme não corresse. Que façam lá as coisas que entendam, cumpram um programa diferente, sem semear a incerteza, a imprevisibilidade, a insegurança no país”, pediu.

Segundo Passos Coelho, o executivo do PS tomou opções orçamentais “demasiado imprudentes e arriscadas” e de forma consciente: “Podia ter feito de outra maneira, sabendo que era isto que ia acontecer, evitava criar esta incerteza”.

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“Insistiu em apresentar uma coisa que sabia que não tinha viabilidade”, reforçou, acrescentando que isso obrigou depois o Governo a “andar às arrecuas e a explicar-se a toda a gente e a telefonar às agências de ‘rating’ e a tentar convencer as pessoas que não, que aquilo não é o que parece”.

“Porquê este espetáculo todo?”

Neste contexto, questionou: “Porquê então este espetáculo todo? Porque é que já vamos na terceira versão do Orçamento que vai ser entregue no parlamento para discussão, se já sabíamos quais as regras?”.

“Se nós queremos dar sinais de preocupação e de inquietação, então o Governo está bem. Para poder fazer exercícios de aparente autoridade, então continue”, criticou.

O presidente do PSD apelou ao Governo chefiado por António Costa para que, se quiser fazer “diferente do anterior”, o faça sem “pôr a confiança do país em causa”.

Passos Coelho recordou que em dezembro já tinha perguntado ao primeiro-ministro, António Costa, o que pensava fazer caso a Comissão Europeia colocasse dúvidas ao cumprimento das metas orçamentais.

“Na altura, ele não respondeu, como de resto acontece com frequência”, disse Passos Coelho.

Ironia. “Eu era assim uma espécie de lacaio de Bruxelas”

Passos aproveitou para ironizar na resposta às críticas de que é alvo sobre a sua atuação junto das instâncias europeias. “Não sei se se recordam mas eu era assim uma espécie de lacaio de Bruxelas”, disse, ironizando, Passos Coelho, relembrando as críticas que lhe faziam enquanto primeiro-ministro. Para logo a seguir afastar outra crítica mais recente — a de que alinha com Bruxelas nas reticências ao Orçamento: “Os lacaios não mandam nos patrões, uma coisa não cola com a outra”.

“O que nós conhecemos são estes mecanismos [da Europa], que é uma coisa diferente. Sabemos como as coisas são e elas são conhecidas, eram também conhecidas do Governo”.

E questionou: “Porquê então este espectáculo todo? Porque é que já vamos na terceira versão do Orçamento que vai ser entregue no parlamento para discussão, se já sabíamos quais as regras?”.

“Se nós queremos dar sinais de preocupação e de inquietação, então o Governo está bem. Para poder fazer exercícios de aparente autoridade, então continue”, criticou.

Pedro Passos Coelho considera que o Governo “podia ter feito de outra maneira, sabendo que era isto que ia acontecer evitava esta incerteza”. A dúvida é se serão necessárias medidas adicionais para cumprir as metas europeias, que Mário Centeno, o ministro das Finanças, garantiu que serão preparadas para o caso de virem a ser precisas. Passos considera que “o Governo apresentou uma coisa que sabia que não tinha viabilidade e depois corrigiu e agora está disposto a corrigir se for necessário, mas acha que não é”.

“Esperamos todos que elas [as medidas adicionais] não venham a ser necessárias, mas não foi um acaso que tivessem sido pedidas”, salientou Passos Coelho. Para o líder do PSD, António Costa “escolheu um caminho e insistiu nele”, dando a entender que a insistência, neste caso, não foi benéfica.

O presidente do PSD acusou o Governo de pôr em causa a confiança no país com opções orçamentais imprudentes e arriscadas e disse esperar que não se repita em Portugal o que aconteceu na Grécia.

“Não quero que aconteça ao meu país o que aconteceu na Grécia. Não quero que aconteça aquilo que aconteceu no passado.”

Pedro Passos Coelho deixou ainda um alerta: “Não é a Bruxelas que interessa que nós possamos cumprir os nossos objetivos, é a nós que interessa”.