No século XXI, Deus falava com o mundo através do Twitter. Desde 2010, escreveu cerca de 10 mil tweets para os seus mais de 2 milhões de seguidores. Em 140 carateres, abordava a atualidade e questões filosofais misturando humor, ironia e referências bíblicas. Esta quarta-feira, no entanto, deu por terminada a sua obra e resolveu descansar. Para sempre.

É o que garante David Javerbaum, o guionista responsável pela conta @TheTweetOfGod, que anunciou que vai descontinuar o perfil no Twitter. Em entrevista à rádio KPCC, Javerbaum explicou que “brincar de Deus” estava a ocupar-lhe”muito tempo e energia” e agora quer dedicar-se a outros projetos. “Tenho outras coisas que quero fazer na minha vida e só tinha que, em um determinado ponto, cortar esse cordão. E o ponto foi este fim de semana”, revela.

Javerbaum comentou que começou a pensar na decisão de deixar a rede social quando a conta foi invadida. “A conta no Twitter foi pirateada. Deus foi pirateado, o que não é surpreendente. Houve um número de mensagens obscenas publicadas lá rapidamente e que foram removidas. Havia uma imagem pornográfica do Garfield”, conta.

Segundo Javerbaum, Deus nasceu no Twitter durante a época que estava a escrever o livro “Memoirs by God”, por sugestão do seu editor, como uma forma de promover o trabalho antes do seu lançamento. “Na época que o livro saiu, a conta do Twitter tinha tanto sucesso que as pessoas pensaram que o livro era um spin-off da conta”, relembra.

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A popularidade de Deus também rendeu uma peça teatral em 2015 intitulada “An act of God”, protagonizada por Jim Parsons (Sheldon Cooper, da série “A Teoria do Big Bang”) e posteriormente por Sean Hayes (Jack McFarland, da série “Will & Grace”). Em Portugal, a peça ganhou o nome de “Deus”e estreia esta semana no Auditório dos Oceanos, em Lisboa, com Joaquim Monchique como protagonista.

Javerbaum, vencedor de 13 prémios Emmy e de dois Grammy e atualmente produtor do programa “The Late Late Show with James Corden”, diz que ser Deus no Twitter estava a condicionar a maneira como escrevia. “Trabalhar no Twitter por um longo tempo ‘miniaturiza’ a maneira de pensar, porque este é o meio. Você é um miniaturista. E se eu estou a ir trabalhar noutras coisas que exigem algo mais longo – ou seja, qualquer outra coisa no mundo – preciso parar de fazer isto”, justifica à rádio.

E de que o guionista vai sentir mais falta em ser Deus? “Acho que a coisa que vou mais sentir falta é a coisa que eu estou a deixar deliberadamente. Você faz um tweet e imediatamente vê as pessoas a fazer retweet e sente: ‘Oh, você fez as pessoas rirem, Você causou uma reação nas pessoas’. E é uma excitação. É uma excitação límbica sentir isso. Heroína também é uma excitação límbica e isso é problemático”, assegura o guionista.

Javerbaum não revelou planos futuros para Deus, mas garante que o autor (não a personagem) não vai deixar a Internet, mesmo que tenha abandonado o Twitter. “Se tiver mais piadas para fazer ou qualquer outra coisa para oferecer ao mundo, gostava de estar num diferente meio”, garante.

Enquanto não apagar a sua conta na rede social, a palavra de Deus ainda está escrita no Twitter.