O Tesouro português não conseguiu, desta vez, emitir dívida a juros negativos. Numa emissão dupla de títulos a 3 e 11 meses, o IGCP obteve um total de 1.000 milhões de euros (o montante máximo pretendido) e os bilhetes do Tesouro foram colocados com taxas de 0,008% e 0,1%, respetivamente.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) colocou 300 milhões em bilhetes a três meses e 700 milhões a 11 meses, cumprindo os 1.000 milhões pretendidos – um valor, contudo, que é menor do que o previsto no início do ano.

Os títulos de curto prazo foram colocados a um preço que pressupõe uma rendibilidade implícita de 0,008% nos três meses (mais do que os -0,023% pagos a 16 de dezembro) e de 0,1% nos 11 meses (também mais do que os 0,03% obtidos no leilão comparável feito no mesmo dia de dezembro).

“É notório que o prémio de risco aumentou desde o início do ano quer para a dívida pública portuguesa, quer para a dívida das empresas portuguesas”, escreve Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa, em nota enviada às redações. “O facto de o nosso mercado ser pequeno também nos penaliza mais quando há algumas vendas maiores. Foi o caso das últimas semanas. Mas é preciso sublinhar que continuamos a financiar-nos a taxas de juro muito favoráveis”, acrescenta o especialista.

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Os rácios de procura caíram um pouco. A procura superou o montante colocado em 2,3 vezes no prazo mais curto (anteriormente foi 3,38 vezes) e, no prazo mais longo, ultrapassou a oferta em 1,52 vezes (contra 1,87 vezes no leilão anterior).

“Os números revelam uma queda no interesse pela dívida portuguesa, por parte dos credores internacionais, sendo que no prazo mais alargado a queda foi bastante significativa”, nota Pedro Ricardo Santos, da corretora XTB Portugal. “Apesar dos esforços de António Costa no sentido de acalmar as principais agências de rating, o esforço parece ser, até agora, infrutífero já que o País paga mais por emitir dívida.

Ainda assim, importa destacar os valores extremamente baixos da taxa de juro, só possíveis devido à intervenção do Banco Central Europeu. Portugal continua assim a beneficiar da política monetária da Zona Euro, sendo possível realizar roll-over [renovação] da nossa dívida com condições mais vantajosas do que aquelas que eram observadas há um ano.

Em circunstâncias normais, as emissões de dívida de curto prazo dificilmente podem ser consideradas barómetros para a perceção de risco em torno de um país. Os prazos são muito curtos e nem na reestruturação da dívida da Grécia (em 2012) a dívida de curto prazo foi envolvida. Por estas razões, os preços e juros de emissão dependem mais das taxas de juro definidas pelo BCE e das expectativas de inflação do que da perceção de risco específica de um país.