“De uma coisa tenho a certeza: nenhum primeiro-ministro pode dizer aquilo que o nosso primeiro-ministro disse [sobre o governador do Banco de Portugal]”, afirmou esta noite Manuela Ferreira Leite no seu habitual espaço de comentário na TVI24. A comentadora começou a sua intervenção por afirmar que “todos os governos lidam muito mal com as entidades independentes”, como é o caso do Banco de Portugal.

“Admito que o primeiro-ministro esteja cheio de razão, que o Banco de Portugal já devia ter resolvido o assunto [dos lesados do BES] e não resolve porque não quer ou não resolve porque anda a empatar”, disse a ex-ministra das Finanças, mas logo de seguida censurou as afirmações do primeiro-ministro, cuja obrigação é conhecer o estatuto do Banco de Portugal.

António Costa “podia ter dito o que quisesse ao governador do Banco de Portugal, dentro de quatro paredes”. A ex líder social-democrata considerou que esta era a única forma de mostrar que “respeitava uma instituição que ele tem obrigação de respeitar”.

Manuela Ferreira Leite considera que o Governo se debate neste momento com a questão da sua credibilidade externa, porque a “sua orientação política é absolutamente contrária àquela é que é a orientação política das instituições europeias”. O país só vai alcançar a confiança e credibilidade “quando houver resultados positivos”.

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Mas, na opinião da antiga ministra das Finanças, o que mais abala a credibilidade de Portugal face às instituições externas, em especial as europeias, não são os resultados que venham a ser obtidos, porque “muito mais importante que as décimas do Orçamento que precisam de ser alcançadas é exatamente esta questão do Banco de Portugal”, disse.

“Devia estar calado”, afirmou Ferreira Leite, quando questionada sobre como deveria António Costa reagir sobre um eventual bloqueio do Banco de Portugal à resolução dos problemas dos lesados do BES. “Podia falar à vontade, mas dentro de quatro paredes. Se queria dizer coisas em público arranjava alguém, um porta-voz, mais ou menos irresponsável que fosse dizer o que quisesse para a televisão ou para os órgãos de comunicação social”, reforçou.

Sobre a atuação do Banco de Portugal em relação aos lesados do BES, a ex-governante entende que a instituição “devia dar algum esclarecimento público”.

A ex-líder do PSD considerou ainda que “as evidências falam por si” e que há uma guerra política contra Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Uma instituição independente e contra a qual uma guerra política “é muito preocupante do ponto de vista democrático”.