Os cientistas conseguiram pela primeira vez simular com sucesso o comportamento de um buraco negro num hipotético universo com cinco ou mais dimensões. De acordo com as projeções informáticas que criaram, as regras da Física que estruturam o nosso universo e que regem o funcionamento científico da ciência moderna não estariam corretas: a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, comprovada há dias com a descoberta das ondas gravitacionais, não se aplicaria num universo com estas características.

A verdade é que não há indícios da existência de outros universos com cinco dimensões, mas os investigadores da Associação Americana de Física dizem que os buracos negros num universo assim teria uma força gravítica tão grande que nenhuma das regras físicas que conhecemos poderiam ser aplicadas. Num mundo com cinco dimensões, os buracos negros podem ter (podem, porque nunca foram observados e não há provas claras) um formato anelar muito estreito. À medida que os buracos negros se movem, esse anel tornar-se-ia progressivamente mais fino, o que criaria protuberâncias ligadas umas às outras por “cordas”. Essas cordas iriam enfraquecer-se, conduzindo eventualmente à criação de buracos negros mais pequenos, explica a Universidade de Cambridge.

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Comportamento de um buraco negro num universo com cinco dimensões. Créditos: Universidade de Cambridge

Buracos negros com estas características são dotados de uma gravidade tão intensa que criam um evento batizado pelos cientistas de “singularidade nua“, onde a matéria entra em cataclismo e colapsa num ponto onde tanto a densidade como a curvatura no tecido espaço-tempo (que corresponde à gravidade) atingem valores infinitos. Nestas condições, as leis normais da física não se podem aplicar. A Teoria da Relatividade Geral de Einstein prevê que o Big Bang seria uma singularidade.

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Se esta singularidade – neste caso, um buraco negro – existir para lá do horizonte de eventos – o ponto a partir do qual nada (nem mesmo a luz) escapa à força gravítica de um buraco negro – então o conhecimento da física do nosso Universo não fica posto em causa porque as singularidades que se preveem acontecer noutros tecidos espaço-tempo que não o do nosso universo não podem ser observados nem sentidos no nosso espaço.

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A formulação da hipótese dos buracos negros anelares remonta a 2002, mas o seu comportamento só pode ser simulado em computador agora, graças ao COSMOS, pertencente à Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Este é o maior computador partilhado da Europa e pode resolver 38.6 biliões de cálculos por segundo.

No entanto, a Teoria da Relatividade Geral não exclui a existência de singularidades nuas no nosso espaço, ou seja, do lado de cá do horizonte de eventos. Se de facto essas singularidades existirem, então todas as regras físicas que sustentam o nosso universo estarão em xeque-mate. Foi por isso que nos anos sessenta, Roger Penrose formulou a conjuntura da censura cósmica: todas as singularidades têm um horizonte de eventos que esconde a singularidade da nossa observação.

Esta ideia é útil porque o nosso Universo pode ter mais dimensões além daquelas que nós podem percecionar: alguns físicos acreditam que o nosso universo é composto por 11 dimensões, que só poderiam ser descobertas se o Large Hadron Collider do CERN chegar a conclusões sobre as questões da física que ainda não estão resolvidas. Se se confirmar que o nosso universo tem tantas dimensões assim, então as singularidades nuas podem mesmo existir e tudo o que sabemos sobre física terá um grande ponto de interrogação.