O presidente da Associação Alentejo de Excelência, Henrique Sim-Sim, alertou esta quinta-feira que a região perdeu em média oito pessoas por dia, na última década, sendo exemplo do despovoamento “cada vez mais acentuado” do interior de Portugal.

A perda de população no Alentejo é “na ordem das oito pessoas por dia”, disse o responsável aos jornalistas, à margem de uma conferência em Évora, explicando que esta estimativa da associação ultrapassa os números dos Censos de 2011.

Segundo os últimos Censos, a região perdia “26 mil pessoas por ano”, o que dava “sete pessoas e tal por dia”, mas, nos últimos 10 anos, com “o aumento da emigração, a diminuição da imigração e o envelhecimento da população, esse número já anda nas oito pessoas por dia”, atingindo “cerca de 29 mil por ano”, indicou.

O responsável da Associação Alentejo de Excelência, promotora da conferência “Será o despovoamento no interior uma inevitabilidade?”, apontou os distritos de Beja e de Portalegre como “os mais preocupantes”.

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E “Mértola (Beja) é dos casos mais preocupantes”, assim como “muitas pequenas localidades do norte alentejano””, enquanto zonas de Évora e de Sines “têm estado a crescer”, referiu.

“O despovoamento dos territórios do interior de Portugal é cada vez mais acentuado e parece ser uma inevitabilidade”, de acordo com a Alentejo de Excelência, dando como exemplo a situação da região, que tem vindo “a perder população continuamente desde 1950”.

Com a conferência desta quinta-feira, a associação quis “dar esse sinal de alerta” de que a situação “tem de ser olhada com atenção” e há que “encontrar soluções para a inverter”, frisou Henrique Sim-Sim.

O caminho, sugeriu, passa por mais investimento “no desenvolvimento do capital humano” e em “iniciativas mais reprodutivas, que acrescentem valor à região, que valorizem os produtos endógenos e que façam com que as empresas sejam mais qualificadas para que os jovens não tenham de sair”.

“E não podemos olhar só para o nosso território. Temos que trabalhar com pessoas e empresas de fora”, alertou.

Um dos oradores da iniciativa, Luis Moreno, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, explicou aos jornalistas que, nos últimos anos, “todo o país perdeu população, não foi só o Alentejo”, e que “o despovoamento vai continuar”, mas defendeu que o seu combate “não é inevitável”.

“Daqui a 10 ou 15 anos vai haver alguma recuperação em alguns territórios. A tendência é haver uma perda disseminada de população, em que há aldeias que morrem mesmo”, enquanto “algumas das vilas vão crescer à custa disso e as cidades também crescem um pouco ou, pelo menos, aguentam-se”, afirmou.

No caso do Alentejo, o investigador vincou que a região “tem que conseguir captar alguma população das áreas metropolitanas” e que, para isso, é preciso “revitalizar o tecido económico e torná-lo mais funcional”.

Já o empreendedor social Frederico Lucas, coautor dos projetos Novos Povoadores e Aldeias Globais, criticou as políticas públicas desenvolvidas nas últimas décadas, as quais contribuíram para “manter o atual ritmo de despovoamento”.

“E não estou a responsabilizar os governos, mas sim as autarquias. Os projetos que são dinamizados para estes territórios não são capazes de criar valor e, assim, não criam emprego”, o que “provoca o despovoamento”, acusou.