Os países afetados pelo zika devem preparar-se para uma sobrecarga dos serviços de saúde, porque 30 por cento dos pacientes que desenvolverem a síndrome Guillain-Barré, desencadeada por aquele vírus, poderão precisar de cuidados intensivos, alertaram cientistas.

“Nas zonas afetadas pela epidemia de zika, temos de pensar em reforçar a capacidade dos cuidados intensivos”, disse Arnaud Fontanet, co-autor de um estudo que associa, pela primeira vez, um aumento dos casos da síndrome Guillain-Barré ao vírus do zika, que já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas no Brasil.

Citado pela AFP, o especialista alertou que “um certo número dos pacientes [com zika] vai desenvolver a síndrome de Guillain-Barré e 30 por cento desses vão precisar de cuidados intensivos, especialmente ventilação assistida”, pelo que poderá verificar-se uma sobrecarga dos serviços de saúde, em particular fora das zonas urbanas.

Investigadores do Instituto Pasteur confirmaram na segunda-feira que o zika, que já infetou um milhão e meio de pessoas no Brasil e dezenas de milhares nos países vizinhos, está na origem de um aumento dos casos da síndrome de Guillain Barré (SGB), uma doença neurológica grave que provoca paralisia dos membros e falência respiratória.

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Trata-se da “primeira demonstração de uma ligação entre o vírus zika e a síndrome de Guillain-Barré”, referiu Fontanet.

O estudo foi realizado a partir dos dados recolhidos na Polinésia Francesa, onde um surto de zika entre outubro de 2013 e abril de 2014 afetou dois terços da população.

Na investigação, duas dezenas de cientistas identificaram 42 casos de SGB na Polinésia Francesa após a epidemia de zika, que infetou 200 mil pessoas. Entre os doentes com SGB, 16 tiveram de receber ventilação assistida. Nenhum morreu.

“O risco de desenvolver a síndrome de Guillain-Barré foi estimado em 2,4 por cada 10 mil infeções pelo vírus zika”, esclareceu Fontanet.

A SGB provocou uma falha respiratória em 20% a 30% dos casos.

Nos países mais ricos, cerca de 5% dos infetados acabaram por morrer e outros 5% ficaram com deficiências permanentes.

Esta síndrome neurológica rara manifesta-se depois da ocorrência de outras infeções virais (como gripe e dengue), mas também, e de forma não negligenciável, após uma infeção bacteriana (campylobacter).

Para Fontanet, não há dúvida de que foi o vírus do zika que causou o aumento dos casos de SGB: “A ligação é tão forte como seria para dizer que o tabaco causa cancro do pulmão”.

Três provas suportam essa conclusão: o número de casos de SGB aumentou 20 vezes durante a epidemia de zika; 90% dos doentes com a síndrome tinham sido infetados na semana anterior com o vírus e ambas as ligações epidemiológicas foram suportadas por análises sanguíneas.

“Encontrámos vestígios da presença recente do zika em 100% dos pacientes com SGB”, disse Fontanet.

Os investigadores reconhecem, no entanto, que falta identificar o mecanismo biológico que leva o Zika a ativar a doença neurológica.

Os cientistas sublinham que o zika, por si só, não é mais perigoso do que uma gripe ligeira e por vezes nem sequer provoca sintomas.

No entanto, o vírus, que está presente em cerca de 40 países, poderá estar ligada ao aumento de casos de microcefalia neonatal, uma deformação grave do cérebro e do crânio de recém-nascidos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que a epidemia poderá afetar entre três a quatro milhões de pessoas no continente americano.

O Brasil e a Colômbia são os países onde se registam mais casos de infetados e de suspeitos.

A OMS determinou que o surto do vírus zika constitui uma emergência sanitária de alcance internacional.

O vírus é transmitido aos seres humanos pela picada do mosquito Aedes aegypti, que existe em 130 países.

Estudos recentes apontam que o vírus poderá também ser transmitido por via sexual por homens infetados.