A bastonária dos Enfermeiros foi ouvida esta quarta-feira na Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS). Ao Observador, Ana Rita Cavaco diz ter repetido perante a inspetora-geral da saúde o que disse no programa Em Nome da Lei, da Rádio Renascença, no passado sábado, e que motivou a abertura de um inquérito por parte da IGAS e também do Ministério Público.

“Fui chamada hoje para esclarecer as minhas declarações e disse exatamente a mesma coisa que disse na Rádio Renascença”, avança, acrescentando que nunca afirmou ter visto médicos a praticar eutanásia, nem tão pouco assistiu a sugestões de prática de eutanásia em relação a situações concretas de doentes. “Foram discussões sobre a eutanásia sempre em termos genéricos”, refere a bastonária, acrescentando que a IGAS poderá analisar o som integral do programa e não apenas as passagens editadas.

A verdade é que, assistindo ao vídeo colocado no site da RR, é possível ouvir uma passagem em que a bastonária diz ter vivido “situações pessoalmente em que em conjunto – nós trabalhamos em equipa (médicos e enfermeiros) – houve médicos que sugeriram, por exemplo, administrar insulina àqueles doentes para lhes provocar um coma insulínico”, dando a entender que tinha presenciado sugestões concretas de médicos em relação a casos reais.

Um enfermeiro num serviço com 80 camas

Considerando esta polémica um não-assunto, Ana Rita Cavaco explica que aproveitou a ida à IGAS para expor uma série de situações que recolheu no primeiro mês de mandato.

Fui levar um conjunto de casos de serviços [públicos e privados], de norte a sul do país, em que entendemos que a segurança dos doentes pode estar comprometida porque o número de enfermeiros por turno para o número de doentes nesses serviços, à partida, não cumpre com o número mínimo para garantir a segurança dos doentes”, contou ao Observador Ana Rita Cavaco.

E deu dois exemplos: um serviço de pediatria com um enfermeiro para oito crianças e um serviço de agudos com 80 camas e dois enfermeiros durante o dia e um à noite.

“Temos dúvidas que os rácios estejam a ser cumpridos. Por isso é que nós levámos estes dados à IGAS, porque isto tem de ser investigado. Achamos que o mais sério e correto é que, da mesma forma que se pediu investigação para uma coisa que eu não disse, se abra uma investigação” para perceber se a segurança dos doentes está posta em causa nestes serviços.

A bastonária entregou ainda, diz, dois estudos internacionais. “Um deles diz que se tivermos cinco doentes para um enfermeiro, por cada doente que aumenta para este enfermeiro, temos um aumento da taxa de mortalidade de 7%. E um outro, já deste ano, que diz que por cada seis doentes a mais, para lá desse rácio que é calculado, a taxa de mortalidade aumenta 20%.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR