A candidata à liderança do CDS-PP, Assunção Cristas, recusou uma responsabilidade direta pelo aumento da pobreza, apontado por um relatório da Cáritas divulgado esta quinta-feira, argumentando que o anterior Governo não criou “a causa da austeridade”.

“Eu só me poderia sentir diretamente atingida e responsável se tivesse sido a criadora da causa da austeridade. Como não foi o anterior governo que criou o buraco em que estávamos metidos em 2011, o que eu posso lamentar é que se tenha chegado a esse ponto, que fosse necessário corrigir a trajetória com medidas que nenhum governo gosta de tomar”, afirmou Assunção Cristas aos jornalistas, no final de uma visita à feira de turismo BTL.

A candidata à presidência dos centristas, que foi ministra da Agricultura do Governo PSD/CDS, reagia ao relatório anual da Cáritas hoje divulgado, segundo o qual as medidas de austeridade foram responsáveis por “novas formas de pobreza que afetam agora as antigas famílias de classe média e as famílias de classe baixa”, e que emergem de situações de desemprego e cortes salariais, principalmente na função pública, de aumento de impostos, de trabalho com baixas remunerações, aumento do trabalho temporário e não coberto pelas redes normais de segurança social.

“Se pudermos acelerar o crescimento económico poderemos mais facilmente acelerar situações que são desconsoladoras para todos nós, mas isso não se faz com imprudência, não se faz com irresponsabilidade”, argumentou.

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Assunção Cristas disse temer “que este Governo, porque só olha para uma parte da história e não olha para o filme todo e para o passado que levou à bancarrota, venha a desguarnecer medidas de fundo, medidas que permitem criar emprego a médio e longo prazo e, essas sim, romper com ciclos de pobreza e permitir que as pessoas possam progredir na vida e ter mais rendimentos”.

“Isso não se faz certamente com austeridade, faz-se com um país sólido, que não tem dívida excessiva, que pode ser capaz de libertar recursos para que a economia se desenvolva normalmente, que gere confiança para que se invista em Portugal”, sustentou.

Assunção Cristas sublinhou que os ciclos de pobreza não se resolvem “apenas com um papel assistencialista e de transferências sociais”: “Esse é um aspeto relevante, certamente, e tem de haver sempre uma rede de suporte, mas só com uma economia fulgurante conseguimos progredir nessa matéria de maneira definitiva”, disse.

Acompanhada pelo ex-secretário de Estado do Turismo Adolfo Mesquita Nunes, Assunção Cristas visitou a BTL e fez um elogio à estratégia centrista naquela área económica, assente numa abordagem integrada, de promoção conjunta, por exemplo, do setor agroalimentar.

Quase a uma semana do 26.º Congresso centrista, Assunção Cristas reiterou que a sua moção pretende afirmar “linhas programáticas sólidas que façam o CDS aparecer aos olhos dos portugueses como uma primeira escolha”, independente de eventuais parceiros de coligação, como o PSD.

A estratégia passa, simultaneamente por “ter as melhores pessoas, os melhores protagonistas” para mostrar uma “oposição séria, sólida, consistente e construtiva”, apontou Cristas.

“O CDS estará preparado para qualquer contexto e qualquer momento. Quando chegar o momento para sermos chamados de novo às urnas estaremos preparados, como estaremos a trabalhar intensamente na oposição”, declarou.

O 26.º Congresso do CDS realiza-se a 12 e 13 de março, em Gondomar. Assunção Cristas é até ao momento a única candidata a suceder a Paulo Portas, que dirige o partido desde 1998, com uma pausa de dois anos, entre 2005 e 2007 (presidência de José Ribeiro e Castro).