Luaty Beirão, o ativista angolano que esteve em greve de fome depois de, juntamente com outras quinze pessoas, ter sido preso por estar a discutir o livro “Da Ditadura à Democracia”, deu uma entrevista ao jornal do Partido Socialista, Ação Socialista, em que discute a importância que a sociedade civil portuguesa e o governo português tiveram e podem vir a ter na resolução do seu caso e na mudança do panorama político angolano.

Na entrevista, Luaty reconhece a importância que o apoio da sociedade civil portuguesa dizendo que não quer “citar ninguém isoladamente, mas o somatório de todas as pequenas ações, dos cartazes aos abaixo-assinados, aos stencils, às vigílias, às peças que se fizeram na imprensa, tudo, absolutamente tudo conta quando nos entregamos a uma batalha desigual contra um opressor, principalmente quando a solidariedade chega de forma tão avassaladora e inesperada, é mesmo comovente”.

Quando questionado em relação ao papel que o governo português deve ter em relação ao que se passa em Luanda, Luaty admite que aos governos cabe agir em mandato de povo, como tal, o que importa é o que o povo faça de “Angola” um assunto prioritário, acrescentando que, numa altura em que os capitais angolanos estão presentes em setores chave da sociedade portuguesa, pôr a situação angolana em evidência faz com que os governantes tenham “mais dificuldades em realizar manobras descaradas para justificar as “boas relações” (subentendendo-se que económicas) independentemente de tudo o resto.” Acrescenta que não vai “cobrar nada ao governo português, até porque há muito boa gente em Portugal que já o faz publicamente.”

Ainda em relação à posição do Governo português, o ativista disse não acreditar que o governo de esquerda traga grandes mudanças no que diz respeito à sua posição oficial em relação aos direitos humanos e liberdade de expressão em Angola, uma vez que o PS já provou ser um partido “muito mais centro do que esquerda” e que as suas anteriores governações provaram que não é “propriamente a antítese do que foram estes últimos anos de relações na era PSD.” Ainda assim, admite que o BE possa vir a “forçar uma postura do Estado português (um tanto ou quanto) mais consentânea com os discursos.”

Luaty pronunciou-se, também, sobre a detenção do procurador do Ministério Público português acusado de ser corrompido por políticos angolanos, dizendo que acredita que possa de facto de ser um sinal de mudança, mas que é essencialmente um passo importante para a imagem da justiça portuguesa, uma vez que a falta de reações em Luanda é “sintomática” do panorama político corrupto que assola o país. Termina rematando que “felizmente ainda existem pessoas que acreditam na sua missão enquanto agentes do Estado.”

Esta entrevista causou estranheza entre alguns militantes socialistas, que ficaram surpreendidos pelo facto do partido do Governo dar destaque a um ativista angolano em relação ao qual o Ministério dos Negócios Estrangeiros tem sido cauteloso e distante.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR