Há alturas em que não há nada para fazer. Vinte minutos é um período de tempo macabro, demasiado pequeno para iniciar tarefas trabalhosas, demasiado longo para o scroll infinito do feed de Facebook, que deixa invariavelmente uma sensação de tempo perdido. Aqui lhe sugerimos técnicas relativamente úteis de matar tempo no trabalho, só quando há tempo a mais para matar — um artigo que vem ainda dentro do prazo das 40 horas semanais da função pública.

No caso de não haver tempo a mais, mas querer adiar trabalho para depois o fazer melhor, com toda a pressão, tenha sempre aberto o Can’t You See I’m Busy, um plataforma de jogos que parecem documentos de Word ou de Excel. Alguns empregadores e bancadas parlamentares não vão apreciar este artigo, mas nós vamos escrevê-lo na mesma.

1. Dê uma mãozinha ao departamento de História da Universidade do Iowa

Lembra-se daqueles dois dias da infância em que queria ser arqueólogo como em Hollywood? A Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, dá-lhe a oportunidade de escavar nos seus documentos históricos. O projeto chama-se DIY History, o que o descreve muito bem: vários documentos do acervo online da universidade estão à espera de ser transcritos para um mais fácil acesso. Com um registo e técnicas básicas de transcrição dadas no site, pode dedicar-se ao trabalho terapêutico de ler e decifrar caligrafias antigas, dos escritos do físico Van Allen (1914-2016) a cartas e diários de mulheres do Iowa.

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2. Arrume tudo em pastinhas

É provável que depois de tentar ler a caligrafia de senhoritas prendadas do final do século XIX se sinta tentado a partir para tarefas realisticamente concretizáveis, cujos resultados encham de satisfação quem os faz acontecer. Organizar o e-mail tem este nível de recompensa e pode ter a certeza que o tipo de letra mais antiquado que lhe vai aparecer é o Times New Roman. Não estamos a falar só de deitar fora mensagens inúteis de publicidade que deixou passar acidentalmente; divida os e-mails em pastas se isso lhe dá jeito (e o entretém) e renuncie a todas as newsletters que assinou e que nunca abriu (jamais as do Observador). De caminho, passe pente fino às listas de contactos do telemóvel e tente preencher todas as categorias que o sistema possibilita: e-mail, telefone, telemóvel, emprego, data de nascimento, morada… e não fique satisfeito até ter uma lista completa dos grupos sanguíneos de toda a gente.

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Ilustração: Ksyu Deniska/iStock

3. Aprenda código

Não estamos a falar de escolas de condução, se bem que essa sugestão também não é má. Estamos a falar dos rapazes que trabalham nos computadores, como dizia a letra dos Rio Grande. “Dizem que é um emprego com saída”, cantavam eles e bem, que saber código é uma pequena forma de dominar o mundo. A plataforma Codecademy afirma já ter ensinado código HTML a 25 milhões de pessoas em todo o mundo, gratuitamente, e algumas começaram novas carreiras assim, construindo o seu próprio site. Tommy Nicholas dá o seu testemunho e diz que criou o Coffityvity, considerado um dos 50 melhores sites de 2013 pela Time, apenas meses depois de aprender código. Quando percebeu que podia tornar reais as ideias que não passavam da sua cabeça, a reação foi “Uau! Já posso criar o que quer que seja!”.

4. Ponha a leitura em dia

Dependendo da duração do contrato de trabalho (no caso de um contrato de trabalho), os tempos mortos do horário laboral podem dar para ler um Guerra e Paz ou mesmo todos os volumes do Em Busca do Tempo Perdido. Mas ler um livro de grande fôlego em intervalos de 20 minutos pode não ser recompensador. Felizmente, a arte literária é farta e o conto é um género delicioso. Aproveite os benefícios do Project Guttenberg (tem uma prateleira especial para contos) ou do Internet Archive que permitem descarregar um livro em PDF ou TXT simulando qualquer documento de trabalho sem graça. Em português, não esquecer a Biblioteca Digital Camões que disponibiliza online todas as edições da Revista Ficções, publicada no início dos anos 2000 e dedicada exclusivamente ao conto. Se não sabe por onde começar, aceda ao What Should I Read, insira o título de um livro que tenha gostado e receba uma sugestão; se quer uma coisa menos mediada pelo código de programação que alguém aprendeu em tutoriais online, todas as sextas-feiras às 15h00 (hora portuguesa), os bibliotecários das bibliotecas públicas de Nova Iorque dão sugestões personalizadas no Twitter.

5. Faça um “check up” aos olhos

O maravilhoso dos testes de cores é que pode bem vir a descobrir coisas sobre si que desconhecia, e não estamos a falar da capacidade de se viciar em jogos de procrastinação. Em cada 255 mulheres, uma tem problemas na visão das cores e o mesmo para um em cada 12 homens. A acuidade na perceção das cores é um tema complexo, com milhares de nuances. Quando se fala da capacidade de ver cores não se fala apenas do despiste do daltonismo, mas comecemos por aí. Há várias maneiras de o fazer online, uma delas é o teste da EnChroma que lhe apresenta vários modelos do Teste de Ishihara; se ao fim de duas semanas confirmar que vive com todas as cores que a natureza oferece, faça o Online Color Challenge e surpreenda-se com as suas incapacidades. Se anda demasiado alegre com o desemprenho do seu corpo no ginásio, esta pode ser uma maneira de colocar em perspetiva o seu físico.

VALENCIA, SPAIN - FEBRUARY 04: Public servants work on their desks of the Commercial Court number 3 on February 4, 2015 in Valencia, Spain. The Commercial Court number 3 of Valencia is one of the overloaded courts across Spain. Last year it received 1,600 lawsuits, five times its capacity set by the General Council of the Judiciary (CGPJ). The figures for the last study of the General Council of the Judiciary of Spain shows that 1,695 of the 3,894 courts of Spain are suffering a work overload greater than 150%. Some of them, mainly in the autonomous regions of Valencia, Andalucia and Madrid are reaching an overload of around 300%. According to the independent association, Jueces por la Democracia (Judges for Democracy) 92% of the judges are suffering stress and demand that the Spanish Government opens 815 new judge positions across the country. (Photo by David Ramos/Getty Images)

Este senhor pode estar a usar o “Can’t You See I’m Busy”, uma plataforma de jogos que parecem documentos de Word ou de Excel. Foto: Getty Images

6. Tire um curso de qualquer coisa

A internet está cheia de cursos online que exigem muito pouco tempo diário. Muitos deles assemelham-se a um jogo de Trivial Pursuit em que a cada resposta certa o utilizador é recompensado com pontuação. Definindo um objetivo de pontuação diário e acedendo ao curso todos os dias, o nível do aluno mantém-se, o que se pode tornar viciante. Funcionam assim o Duolingo, que ensina em português línguas como inglês, espanhol, francês ou alemão, ou o Memrise, que promete ensinar não só línguas mas também biologia, química, matemática, arquitetura ou moda. Não espere, no entanto, ficar pronto a escrever ensaios sobre História do Egito Antigo — todos estes cursos funcionam na lógica do conhecimento de factos mais ou menos dispersos. Se ambiciona algo mais articulado, o Coursera une várias universidades de todo o mundo e disponibiliza cursos gratuitos online com uma duração de três a seis horas semanais. No final de tudo isto estará pronto para gastar tempo no WikiGame que desafia os jogadores a ir de uma página de Wikipédia à outra no menor número de ligações possível.

7. Perca-se no maravilhoso mundo da raiz das palavras

O Cuidado com a Língua era o seu programa favorito e tem muita pena que tenha acabado? Provavelmente não, mas se achava graça àquele segmento em que apareciam animações com obras de arte e a Maria Flor Pedroso explicava o sentido das palavras que usamos, este entretém é para sim. Em inglês, o Online Etymology Dictionary é bastante completo e apresenta árvores genealógicas intricadas e inebriantes. Em português, há os brasileiros Dicionário Etimológico e o Origem da palavra, em que existe até um consultório etimológico onde se podem deixar algumas perguntas e inquietações.