“Marcelo, o Popular”. “Marcelo, o Coração d’ Ouro”. Para os mais novos, uma alternativa: “Marcelo, o Bacano”. No dia em que tomou posse como o quinto Presidente da República democraticamente eleito, Marcelo Rebelo de Sousa não fez a coisa por menos e encantou quem o esperava. E no curto caminho entre o Mosteiro dos Jerónimos e o Palácio de Belém, não lhe faltaram cognomes. Sem primeira-dama ao lado, houve até quem se candidatasse ao cargo: não faltam pretendentes a “Marcelo, o Charmoso”.

Não uma, não duas, nem três. Cinco. Cinco pretendentes. “Se o professor Marcelo quiser uma primeira-dama é só escolher uma de nós”, garantia Dulce, enquanto esperava pacientemente o novo Presidente da República junto ao Palácio de Belém. Ao lado, a amiga Alexandra aumentava a parada: “Fazia-lhe uma tosta mista que ele não resistia”.

A pergunta impunha-se: mas Marcelo é assim tão popular entre as mulheres? “Sim, ele é muito charmoso”, respondia Maria Hilaíde, sem se importar com o que pensava o marido Amadeu. “É um pedaço de mau caminho”, acrescentava, a brincar. A brincar porque o matrimónio é uma coisa sagrada e o casamento já dura “há mais de 40 anos”.

Agora mais a sério, Hilaíde, a mais conversadora dos seis – cinco mulheres e Amadeu – pedia: “Espero que faça alguma coisa pelas reformas e pelos pobres. Há muita miséria neste país”. Aproveitou que moravam “já ali ao lado” e veio com as quatro amigas e com o marido assistir à cerimónia de tomada de posse do novo Presidente. Porquê? “Porque gosto muito do professor Marcelo e porque acredito que ele pode ajudar a dar a volta a este país”. “Só espero que não seja igual aos outros todos”, atirava, entredentes, Dulce.

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Marcelo Rebelo de Sousa tomou oficialmente posse como Presidente da República esta quarta-feira. Depois de deixar a Assembleia da República, “Marcelo, o Presidente” seguiu para o Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, para a cerimónia de deposição de coroas de flores nos túmulos de Luís Vaz de Camões e de Vasco de Gama. Pouco depois, partiu para Praça Afonso de Albuquerque com direito a escolta de honra da cavalaria da GNR. Mesmo antes do almoço, ainda tomou posse das insígnias da Banda das Três Ordens, no Palácio de Belém.

Lá fora, no percurso entre o Mosteiro dos Jerónimos e o Palácio de Belém, centenas de pessoas fizeram questão de ficar para ver passar o “professor”. Na viatura oficial, Marcelo não resistiu em abrir a janela e acenar. As pessoas aplaudiam e gritavam por Marcelo. O sucessor de Aníbal Cavaco Silva repetia o gesto e acenava de volta, sem, por certo, reparar numa cara bem familiar por entre a multidão.

Ana Maria, de 68 anos, esperava junto ao Palácio de Belém desde as 11h30. Tinha tentado ver Marcelo em São Bento, mas não conseguira. Por isso, fez questão de ir até ali para ver um velho conhecido. “O professor Marcelo é meu cliente há 18 anos. Todos os sábados ia lá ao meu pronto-a-comer, o ‘Ana Preta'”, no Estoril.

O prato favorito de Marcelo? “Ah, isso é segredo, não posso contar”. O que Ana Maria faz questão de contar é que Marcelo ia “todos os anos, no dia 24 de dezembro, à minha loja, por volta das cinco da tarde e levava tudo o que eu não tinha vendido para dar a quem não tinha. Tem um coração d’ ouro”.

E vai ser sempre assim, mesmo como Presidente. “Disso não tenho dúvidas”, garante Ana Maria, com uma certeza inabalável. “Ele sempre foi próximo de toda a gente. Dos pobres, dos pretos, dos ciganos. As pessoas não mudam de carácter só porque se tornam Presidentes”, atira. E Marcelo, volta ao restaurante? “Claro. Não come melhor em mais nenhum lado”, diz, convicta.

A aura de proximidade parece ter-se colado a Marcelo como uma segunda pele. Entre os escutados pelo Observador, essa é sempre a primeira qualidade a apontar ao novo Presidente. Está na ponta da língua. João, de 17 anos, traduz, em bom português: “O Marcelo é um bacano”.

A timidez tolda-lhe as palavras e não dá para arrancar mais. Ao lado, o casal Ivone e Joaquim Soares ajudam a pintar o retrato. “Habituei-me a ouvi-lo na televisão. Tenho muitas expectativas. Acho que o professor Marcelo vai ajudar o país a ultrapassar esta fase muito má. Para sofrer já bastaram os últimos quatro anos”, afirma Joaquim Soares, ao mesmo tempo que Ivone acenava afirmativamente com a cabeça.

E nem a morrinha constante que se fez sentir durante toda a manhã e início de tarde fazia abalar a convicção do casal. “Marcelo vai ser muito diferente de Cavaco. Vai ser mais interventivo e vai estar mais próximo das pessoas”, garante Ivone.

Marcelo é popular e as ruas de Belém comprovaram-no. Será que o é também do outro lado do Atlântico? Doralice Santos veio do Brasil para visitar Lisboa e não perdeu a oportunidade de ver o novo Presidente da República portuguesa. Não o conhecia, mas nem por isso deixou de ficar seduzida. “Estou muito emocionada. A cerimónia foi muito bonita”, confessa ao Observador, já depois de ter visto Marcelo chegar ao Palácio de Belém, escoltado pela cavalaria da GNR.

“Lá no Brasil não tem este tipo de patriotismo”, ajuda a explicar o filho, Fernando Santos, brasileiro de coração, há 12 anos a viver em Alfragide. Conhece “Marcelo, o Comentador” e prefere não se comprometer em grandes futurologias. Ainda assim, deixa escapar: “Espero que Marcelo seja mais justo e mais reto. Que não puxe tanto para o partido como o anterior”.

Enquanto os turistas (japoneses, muitos, espanhóis, brasileiros e franceses) disparavam flashes, curiosos com o ajuntamento e com toda a pompa e circunstância da cerimónia, os portugueses (em maioria) faziam questão de aclamar o novo Presidente. A avaliar pela amostra, a conclusão parece ser óbvia: Marcelo está em estado de graça. Os próximos tempos e anos dirão se consegue manter o cognome de “Marcelo, o Popular”.