“Três Recordações da Minha Juventude”

O francês Arnaud Desplechin regressa pela terceira vez à personagem semi-autobiográfica de Paul Dédalus, vista já em “Comment je me suis disputé… (ma vie sexuelle)” (1996) sob os traços de Mathieu Amalric, e em “Um Conto de Natal” (2008), interpretada por Emile Berling, e que remete para o Stephen Dedalus de “Retrato do Artista Quando Jovem”, de James Joyce. Aqui, é de novo Amalric a dar vida à personagem na sua incarnação contemporânea, enquanto que Quentin Dolmaire o personifica na adolescência e Antoine Bui na infância. O filme encontra Paul no corpo diplomático, de regresso a Paris após uma comissão numa ex-república soviética, e a relembrar partes da sua vida durante a infância e a adolescência, nomeadamente a sua paixão ardente pela jovem Esther, na década de 80, da qual nunca se conseguiu libertar. Paul não é uma figura com a qual seja fácil simpatizar, sobretudo quando adolescente, a sua existência não é particularmente interessante, e este tipo de narrativa combinando memórias pessoais, o tema da identidade, elementos romanescos e muita jiga-joga temporal já foi feita de forma muito menos entediante, e muito mais envolvente, convincente e intensamente cinematográfica por François Truffaut na série de filmes sobre a vida do seu “alter ego” Antoine Doinel. Arnaud Desplechin ganhou o César de Melhor Realizador e os incondicionais do seu cinema irão decerto tecer loas a “Três Recordações da Minha Juventude”.

“Irmãos e Espiões”

Louis Leterrier, o realizador de “O Incrível Hulk”, assina o novo filme co-escrito e interpretado por Sacha Baron Cohen, uma paródia aos filmes de ação e espionagem (entre outras várias e desvairadas coisas, quem segue a carreira do criador de Ali G, Bruno e Borat já sabe com o que pode contar). Sebastian Butcher (Marc Strong), o melhor e mais letal agente do MI6, tem um irmão mais novo, Nobby (Cohen), que é exatamente o oposto dele. Um inútil social e um idiota chapado, um “hooligan” do futebol que vive à custa do Estado na deprimente cidade costeira de Grimsby — “geminada com Chernobyl” — no norte de Inglaterra, com a namorada e uma caterva de filhos. Sebastian e Nobby foram separados ainda pequenos e criados por famílias diferentes, e vão encontrar-se finalmente e ficar envolvidos numa conspiração terrorista de proporções mundiais. Penélope Cruz e Ian McShane também fazem parte do elenco de “Irmãos e Espiões”, e entre os nomes conhecidos que fazem brevíssimas participações na fita estão Daniel Radcliffe e… Donald Trump.

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“Na Onda”

Helen Hunt estreou-se a realizar longas-metragens em 2007 com o muito pouco visto “Até que Me Encontrou”, uma comédia dramática que também interpretava ao lado de Colin Firth, Bette Midler e Matthew Broderick. Sete anos depois, a atriz da série “Doido por Ti”, e de filmes como “Melhor é Impossível” e “Tornado” voltou à realização com este “Na Onda” (o filme é de 2014, mas só agora chega aos cinemas em Portugal), onde acumula realização, argumento e interpretação. Hunt faz o papel de Jackie, uma mãe-galinha novaiorquina, divorciada e editora de ficção numa prestigiada revista tipo “The New Yorker”, que quer orientar a vida do filho adolescente, candidato a escritor. Este desiste da faculdade vai ter com o pai e com a nova família deste à Califórnia, e torna-se surfista, e Jackie mete-se num avião para ir ver secretamente o que se passa com o filho. “Na Onda” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.