O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) precisa urgentemente de 15 milhões de dólares (13,8 milhões de euros) para assistir cerca de 11 mil refugiados moçambicanos no Malaui, informou a organização à emissora pública Rádio Moçambique.

“Precisamos de fundos para implementar vários programas, devido ao crescente número de recém-chegados de Moçambique, traduzindo-se no excesso de trabalho e numa maior pressão sobre os poucos recursos disponíveis”, afirmou a representante do ACNUR no Malaui, Monique Ekoko, citada pela Rádio Moçambique.

O ACNUR, diz a emissora, está preocupado com a degradação das condições de vida no local, devido à superlotação do acampamento de Kapise, localizado a seis quilómetros da fronteira com a província de Tete, centro de Moçambique, de onde são oriundos os refugiados.

As famílias moçambicanas abrigadas em Kapise alegam que fugiram das suas casas devido a confrontos entre as forças governamentais e o braço armado da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido de oposição.

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Segundo a Rádio Moçambique, o ACNUR pretende transferir os refugiados de Kapise para o acampamento de Luwani, que acolheu milhares de refugiados da guerra civil moçambicana, que durou 16 anos até 1992.

Contactada telefonicamente na terça-feira pela Lusa a partir de Lisboa, Monique Ekoko disse desde Kapise, que, foi possível registar 8.776 moçambicanos, estimando que aguardavam idêntico procedimento cerca de 2.250 outros.

“Até ontem [segunda-feira] registámos 8.776 moçambicanos que estão a pedir asilo e alegam que têm estado a ser perseguidos pelas tropas governamentais [moçambicanas na província de Tete], que as suas casas têm estado a ser queimadas e que essas forças os acusam de albergarem soldados da Renamo”, explicou Monique Ekoko.

Na localidade de Nkondezi, palco de confrontos que têm levado a fuga de milhares de pessoas, o pagamento do Subsídio Social Básico para pessoas vulneráveis e sem capacidade para o trabalho está supostamente a ser condicionado pela presença e movimentação, nos últimos dois meses, de homens armados da Renamo na localidade de Nkondedzi, refere o jornal Notícias.

Segundo o delegado do Instituto Nacional de Segurança Social, Aníbal de Oliveira, a situação tem obrigado a polícia a escoltar as equipas que fazem a entrega do subsídio, para evitar o risco de assaltos que podem ser alegadamente perpetrados por membros do braço armado da Renamo.

Em fevereiro, o diário privado O País, noticiou que mais de três mil alunos da localidade de Nkondezi abandonaram a escola, fugindo dos confrontos para o Malaui.

Na quarta-feira, o Governo moçambicano anunciou a constituição de uma equipa de trabalho para apurar os alegados abusos pelo exército aos direitos humanos de refugiados no Malaui e avaliação das condições de assistência humanitária.

A crise político-militar em Moçambique degradou-se nas últimas semanas, com acusações mútuas de assassínios políticos entre a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, e a Renamo, e ataques a veículos civis e militares em alguns troços das principais estradas do país na região centro, atribuídos ao braço armado da oposição.

O Presidente moçambicano dirigiu na sexta-feira um convite ao líder da Renamo para a retoma do diálogo e pediu ao maior partido de oposição “máxima urgência” na designação dos seus representantes para preparar um encontro ao mais alto nível.

Na resposta, o líder da Renamo concordou com o reatamento do diálogo, mas, “como forma de evitar os acontecimentos do passado”, condiciona as conversações a pontos prévios, nomeadamente a mediação do Governo da África do Sul, Igreja Católica e União Europeia.

Nyusi e Dhlakama avistaram-se duas vezes no início de 2015, mas o diálogo entre Governo e Renamo está bloqueado há vários meses, levando o líder da oposição a ameaçar tomar o poder nas seis províncias onde reclama vitória nas últimas eleições gerais.