Grandes ideias de negócio vêm, muitas vezes, de situações quotidianas. Sebastian Fabre, antigo executivo da Microsoft, não percebia nada de moda, mas o armário da sua mulher inspirou-o para explorar um mercado que ainda não estava desenvolvido — a venda de artigos de qualidade em segunda mão.

O negócio começou quando se apercebeu que a mulher tinha imensas carteiras e malas, mas insistia em usar sempre a mesma. Situação com que muitas mulheres se identificam, mas que a ele lhe causou estranheza. Ainda mais porque essas carteiras eram de marcas de luxo como a Chanel ou a Hermès. Quando ele e a sua mulher tomaram a decisão conjunta de vender as malas que nunca tinham sido usadas, aperceberam-se que, embora houvesse plataformas para venda de artigos em segunda mão, como a Amazon e o eBay, nenhuma lhes garantia que o valor dos artigos fosse reconhecido, ou as suas credenciais de vendedores.

Fabre calculou, e bem, que não devia ser o único marido a pensar o mesmo e que, como tal, havia um mercado a explorar. Foi assim que pensou na Vestiaire Collective, um mercado de artigos em segunda mão. Encontrou cinco sócios e, seis meses depois, lançou a marca que vende sapatos, carteiras, acessórios e roupas de luxo em segunda mão.

Os primeiros artigos que venderam foram, naturalmente, as carteiras da mulher de Sebastian, mas desde então, as vendas têm subido 85% por ano desde a sua fundação, em 2009. Nem mesmo a crise financeira que assolou a Europa afetou o crescimento da empresa.

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Para justificar este crescimento, Fabre explica à BBC Mundo que “há uma grande quantidade de tesouros a dormir nos armários das pessoas”.

Chanel

Brincos Vintage Chanel – 290 euros

A empresa que começou a vender 13 carteiras em 2009 conta já com uma rede de quatro milhões de membros em 40 países. Os lucros vêm de uma comissão de venda que é cobrada aos clientes e, só no ano passado, as receitas arrecadadas ultrapassaram os 76 milhões de euros.

Quando começaram eram pioneiros, mas hoje em dia contam com várias empresas rivais. O empresário garante que a sua vantagem competitiva é a aposta na garantia de que os produtos estão em boas condições. Os interessados em vender mandam uma fotografia do produto e o preço a que querem vendê-lo, mas só depois de ser avaliado pela equipa da Vestiaire Collective é que decidem se vendem o produto ou não. Fabre garante que cerca de um terço dos produtos que lhes chegam às mãos são rejeitados por não preencherem os requisitos de qualidade exigidos pela empresa.

Apesar do sucesso que o modelo de negócio tem tido nos últimos oito anos, Fabre admite que este não é um conceito que agrade a toda a gente e acredita que tem “uma oportunidade entre os tipos de consumidores mais evoluídos do Ocidente. Já se sabe que quem sai para um mundo difícil não quer nada de segunda mão: o usado implica pobreza”. Os números do seu negócio dizem o contrário.

Fica a ressalva: sim, os preços são muito mais baixos que os originais, ainda assim, não são indicados para todas as carteiras.