Um teste de diagnóstico da tuberculose realizado através da urina, barato e fácil de usar, poderá ajudar a reduzir a taxa de mortalidade por tuberculose em pacientes seropositivos na África subsariana, conclui um estudo publicado esta quarta-feira.

Cerca de 40% de todas as mortes relacionadas com o VIH ou a Sida em África devem-se à tuberculose, mas quase metade dos pacientes permanece sem diagnóstico e sem tratamento até morrer.

Os autores do estudo agora publicado na revista científica The Lancet, realizado em 10 hospitais da África subsariana, dizem que se este teste de baixo custo fosse aplicado de forma mais abrangente, milhares de vidas poderiam salvar-se anualmente.

“Este é o primeiro ensaio de qualquer teste de diagnóstico da tuberculose a mostrar uma redução do número de mortes. A redução da mortalidade deve-se provavelmente ao facto de o teste da urina, em conjugação com os testes de rotina, resultar numa maior proporção de pacientes a começar o tratamento mais cedo”, explicou o coordenador do estudo, Keertan Dheda, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

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Os cientistas concluíram que o teste é particularmente eficaz na identificação da tuberculose em doentes com uma infeção por VIH avançada, os mais vulneráveis à tuberculose avançada.

Apesar de a redução absoluta da mortalidade registada no estudo ser de apenas 4%, os autores do estudo sublinham que, com 300 mil doentes com VIH a morrer com tuberculose em África todos os anos, “implementar este teste de baixo custo, rápido e realizado na cama do hospital, tem potencial para salvar milhares de vidas anualmente”.

A tuberculose é a principal causa de morte em doentes com VIH em países de baixo e médio rendimento e os hospitais estão muitas vezes sobrelotados com pacientes seropositivos com suspeitas de tuberculose.

O diagnóstico da tuberculose inclui habitualmente raios-X de tórax e análises bacteriológicas da expetoração, mas para doentes em estado grave pode ser difícil produzir expetoração e outras alternativas, como a indução da expetoração ou a recolha invasiva de amostras, são muitas vezes inacessíveis.

O teste agora analisado deteta uma molécula glicolipídica (denominada lipoarabinomannan), que está ligada à tuberculose, fornece um resultado em 25 minutos e custa 2,4 euros.

Keertan Dheda recorda que o teste é recomendado pela Organização Mundial de Saúde desde novembro de 2015, mas a recomendação é condicional, “o que significa que depende do médico ou do sistema de saúde decidir se usa ou não o teste”.

“Esta informação torna a utilização do teste mais imperiosa e sugere que agora deve ser exigido que o teste seja mais abrangente”, disse o cientista.

O estudo envolveu 2.528 doentes com VIH em dez hospitais em quatro países da África Subsariana (quatro na África do Sul, dois na Tanzânia, dois na Zâmbia, e dois no Zimbabué), 1271 dos quais fizeram apenas testes de rotina, enquanto os restantes 1257 fizeram os rastreios de rotina complementados com o teste de urina.

Oito semanas depois de terem alta do hospital, 21 por cento (261) dos doentes no grupo do teste de urina tinham morrido, contra 25 por cento (317) dos pacientes do outro grupo, uma redução absoluta de quatro pontos percentuais.

A percentagem de doentes que recebeu tratamento no grupo do teste de urina foi de 52%, contra 47% no outro grupo e, entre aqueles que receberam tratamento, uma maior proporção de pacientes começou o tratamento nos primeiros três dias (79% contra 69%).