Vítor Dias, antigo dirigente do PCP e militante do partido, defende no seu blogue que não houve qualquer transmissão de ficheiros entre o PCP e Moscovo, depois de serem desmantelados os arquivos da PIDE nos dias que se seguiram ao 25 de abril. Trazer este assunto de volta à esfera mediática, tem, segundo o comunista, “o objetivo óbvio de difamar e enxovalhar o PCP”.

A publicação do antigo membro da Comissão Política do PCP no seu blogue, vem na sequência da publicação de um artigo de fundo no Expresso sobre os arquivos de Vasili Mitrokhin, copiados dos originais do KGB por este arquivista, que trabalhou durante anos para a organização secreta e acabou por entregar as cópias ao Reino Unido. O Expresso apurou que existiam 14 espiões do KGB em Lisboa, em 1974, e que o PCP “promoveu e encorajou” o recrutamento de membros e simpatizantes do partido e que Álvaro Cunhal teria passado “materiais da PIDE e da NATO” ao KGB.

Vítor Dias refuta estas considerações e afirma que este arquivo “não se sustenta em qualquer base documental autêntica, pois apresenta-se como constituído por alegadas cópias manuscritas pelo próprio [Mitrokhin] de milhares de documentos internos do KGB”. Ao Observador, o PCP enviou a mesma resposta que reencaminhou para o Expresso sobre este tema, dizendo que o partido “repudia veementemente velhas falsidades, calúnias e provocações anti-comunistas que, como estas, têm por base alegadas revelações de fontes ligadas a serviços secretos, ou outras, que de tempos a tempos são recuperadas”.

Ainda sobre a entrega de documentos do PCP ao KGB, Vítor Dias defende que o próprio Álvaro Cunhal falou sobre isto em 1994 e que, em 1999, também o Avante fez menção ao tema:

Excerto da entrevista de Cunhal em 1994

Avante: A referência direta ao KGB (com o depoimento de um seu antigo dirigente, agora afastado e ligado aos Estados Unidos) e a supostas ligações do PCP a serviços de informação. Já disseste que não responderás diretamente a afirmações provocatórias. Mas não queres fazer nenhum comentário sobre esta questão?
Álvaro Cunhal: Naturalmente que quero. Não é uma questão menor. Pelo contrário. Relações com serviços de informação é uma questão importante que se coloca a todos os partidos e naturalmente também ao nosso. Em termos de princípios, de orientação e de prática. No PCP essa questão foi e continua a ser inteiramente clara. Pode resumir-se em dois pontos fundamentais. O primeiro: o PCP nunca admitiu quaisquer contactos com serviços de informação, seja de que país forem. O segundo: a ligação, informação ou compromisso com qualquer serviço de informação é incompatível com a qualidade de membro do PCP.

Avante: O Partido soube ou desconfiou alguma vez de que um militante estava ligado a um serviço de informação? No caso afirmativo, que atitude tomou?
Álvaro Cunhal: Com conhecimento comprovado, os casos foram raros. A medida foi a imediata expulsão do Partido. Mesmo em casos de forte e justificada desconfiança, a decisão foi a mesma de maneira mais ou menos formal.

Em 1999, esta entrevista foi lembrada por Vítor Dias num artigo escrito na página da internet do Avante. Vítor Dias escreveu então que não quer “emporcalhar as páginas” do jornal oficial do partido, aquando a publicação do primeiro volume baseado na informação dos arquivos Mitrokhin. Mais de 10 anos depois, em 2013, José Milhazes, lançou o livro “Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril” e defendeu que Portugal deveria pedir a devolução dos arquivos da PIDE que ainda estão em Moscovo e que constam dos arquivos originais do KGB.

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