A economia global já não vai acelerar em 2016, como se previa. O vaticínio é do Morgan Stanley, que atribui uma probabilidade de 30% ao risco de uma nova recessão global — algo que o banco define como um crescimento anual igual ou inferior a 2,5%. “Os riscos negativos em torno das perspetivas de crescimento global aumentaram nos últimos meses”, escreve o banco de investimento no último relatório global de previsões económicas.

O banco decidiu cortar a previsão de crescimento global para 3%, menos do que os 3,3% anteriormente previstos. “Ainda que não acreditemos que uma recessão global seja o cenário mais provável para este ano, começa a preocupar-nos o impacto cada vez menor dos preços do petróleo baixos e das políticas monetárias expansionistas” por parte dos bancos centrais, diz o Morgan Stanley, que também acaba de divulgar relatórios sobre vários países, incluindo Portugal.

Um crescimento de 3% é o chamado cenário-base do Morgan Stanley. Mas o banco passou a atribuir “uma probabilidade de 30% a uma recessão global ao longo do próximo ano, definida como um crescimento anual do PIB de 2,5% ou menos”. Anteriormente, o banco dava uma probabilidade de 20% a esse cenário negativo – “as revisões em baixa das nossas previsões de crescimento implicam que as condições no início de 2016 deterioram-se um pouco em relação às nossas previsões anteriores”, afirma o banco norte-americano.

As previsões do Morgan Stanley são bem mais pessimistas do que, por exemplo, as do Fundo Monetário Internacional (FMI). A instituição liderada por Christine Lagarde apontou, em janeiro, para um crescimento global de 3,4% em 2016 e 3,6% em 2017 – já na altura prevendo “uma recuperação na atividade global mais gradual do que na anterior previsão, feita em outubro“.

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O que se está a passar na economia global?

Há dois grandes tipos de indicadores que estão a assustar o banco de investimento. Por um lado, os índices de comércio internacional e, por outro, os indicadores de confiança dos empresários.

O Morgan Stanley nota que os volumes globais de transações comerciais cresceram a uma taxa anual de 2,5% no ano passado, “uma taxa de crescimento tão baixa que, historicamente, seria coincidente com uma taxa de crescimento bem inferior aos 3% registados”. O banco recorda que “nos últimos anos, o crescimento do comércio internacional tem sido, no máximo, igual à taxa de crescimento global” mas nota que “nas décadas anteriores o comércio crescia ao dobro do ritmo do PIB mundial”.

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Cruzando os dados do comércio internacional (linha amarela) e dos indicadores avançados de atividade industrial global (linha azul), o Morgan Stanley conclui que estamos perigosamente perto de níveis associados a recessões económicas.

Ainda assim, o banco mantém uma confiança razoável de que seja possível evitar o tal crescimento global igual ou inferior a 2,5% que o Morgan Stanley define como uma recessão. Se assim for, será graças ao consumo. “Os indicadores sobre as vendas a retalho, as matrículas automóveis, a confiança dos consumidores e os índices avançados de atividade económica (incluindo serviços) continuam bem acima dos níveis tipicamente associados às recessões económicas e estão a aguentar-se bem”, afirma o Morgan Stanley.

Contudo, há riscos que podem deitar tudo a perder. E o Morgan Stanley aponta os dois principais:

  • “Bancos centrais podem perder o controlo das condições financeiras internas (o que é um risco nos EUA, na zona euro e no Japão) ou perder o controlo dos fluxos internacionais de capitais (principalmente nos mercados emergentes, sobretudo a China)”;
  • “Uma vasta gama de riscos políticos e geopolíticos, sobretudo o conflito no Médio Oriente, a crise dos refugiados na Europa e um conjunto de situações mais localizadas, como o risco de Brexit ou a instabilidade económica no Brasil”.

Eis o quadro de resumo das principais previsões económicas (trimestrais e anuais) do Morgan Stanley:

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