Foram divulgadas gravações telefónicas que adensam as suspeitas de corrupção no PP de Valência, conta o El Mundo. As escutas foram feitas no âmbito da Operação Taula, que permitiu perceber que o financiamento da última campanha eleitoral de Rita Barberá, candidata do PP à Câmara Municipal de Valência, foi fraudulento. O partido abriu um processo de averiguação que deverá levar à demissão de todos os deputados regionais e deputados autonómicos investigados por branqueamento de capitais. A informação foi avançada por Fernando Martínez-Maillo, vice-secretário do partido, horas depois de Barberá ter anunciado que vai prestar declarações voluntariamente, avança o El País.

Este caso provocou uma crise interna no Partido Popular espanhol, que critica o apoio inicial de Mariano Rajoy, o líder do partido, a Barberás, sua amiga pessoal. O processo de averiguação interno no partido foi aberto apenas no dia em que o El Mundo divulgou as escutas que incriminam a autarca.

Uma conversa intercetada pela Guarda Civil a 15 de abril de 2015 entre a ex-veradora da Cultura da câmara valenciana, Maria José Alcón, e o seu filho, Vicente Burgos Alcón, revelou que uma pessoa da máxima confiança de Barberá pediu que Alcón depositasse numa conta 1.000 euros, que lhe seriam devolvidos em duas notas de 500 euros. María José Alcón é também mulher de Alfonso Grau, ex-vice-presidente da Câmara de Valência, que foi detido no âmbito de um outro caso de corrupção e é um dos arguidos no caso Nóos (que envolve Iñaki Urdungarin e a sua mulher, a infanta Cristina).

Alcón trabalhava com Marcos Benavent, ex-gestor de uma empresa pública, que durante anos terá usado esquemas para lavar o dinheiro. Na gravação ouve-se: “Criaram uma armadilha no partido deram-me 1.000 euros em duas notas de 500, dinheiro sujo (…) E eu tinha que lhes fazer uma transferência legal da minha conta, ou seja, para branquear dinheiro, corrupção política total, mas pronto”. Na mesma conversa, confirma “a existência de dinheiro em poder do partido político com que Alcón se identifica – o PP -, dinheiro que (…) pode vir de prestações ilícitas no campo da contratação pública”.

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Alcón conta que o dinheiro não declarado era entregue em mão, na condição de que fizesse uma transferência bancária da sua conta pessoal na mesma quantia, para simular uma doação. A ex-vereadora admitium ainda, em conversa com a sua mãe, que o dinheiro lhe era dado por “Mari Carmen”, referindo-se a Mari Carmen García Fuster, figura do partido próxima de Barberá. Ao seu filho, disse: “Como tu me disseste uma vez, e tens mais razão que um santo, neste país a única coisa que funciona é a corrupção”.

Este seria um esquema organizado e hierarquizado que conta com ramificações internacionais. A organização está a ser investigada pela Brigada Anticorrupção e pela Guarda Civil espanhola e acredita-se que abranja vários contratos públicos que terão sido adjudicados por várias instituições municipais. As “comissões” pagas variariam entre 2% e 3% dependendo do cargo e da posição da pessoa no esquema fraudulento. O dinheiro era canalizado para o financiamento do partido.

O juiz Víctor Gómez, magistrado responsável pelo caso Taula, aprovou o levantamento parcial do segredo de justiça na investigação da fraude da campanha eleitoral de Rita Barberá. O juiz prorrogou o segredo de justiça por um mês para dar a Barberá e a Miguel Domínguez, deputado regional, o outro arguido no caso de branqueamento de capitais, a possibilidade de confessarem no juízo de Instrução antes de enviar o caso para o Supremo Tribunal.

As escutas telefónicas ao telefone de María José Alcón revelaram-se essenciais na investigação da Operação Taula, que tenta desmantelar a a corrupção no município de Valência. Este é apenas a ponta de um de vários casos de fraude e corrupção que envolvem o PP em Espanha.