Investigadores anunciaram esta quarta-feira que uma vacina contra o Dengue se mostrou totalmente eficaz a prevenir a doença em 21 voluntários que receberam uma dose enfraquecida do vírus, num pequeno ensaio clínico controlado.

Os resultados, publicados hoje na revista Science Translational Medicine, são promissores no desenvolvimento de uma vacina para aquela que é a doença transmitida por mosquitos mais prevalente em todo o mundo, infetando anualmente quase 400 milhões de pessoas em mais de 120 países, dizem os cientistas.

“As conclusões deste ensaio são muito encorajadoras para aqueles que, como nós, têm dedicado muitos anos a trabalhar em candidatas a vacinas para proteger contra o Dengue”, disse o coautor do estudo Stephen Whitehead, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas, nos EUA.

Embora a maioria das pessoas infetadas com o Dengue tenham apenas ligeiros sintomas, mais de dois milhões de pessoas por ano desenvolvem uma forma perigosa de febre hemorrágica de dengue, que mata anualmente mais de 25 mil pessoas.

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Atualmente, há várias candidatas a vacinas em ensaios clínicos, mas ainda não se descobriu uma vacina segura e eficaz a longo prazo.

Um dos principais desafios para os cientistas prende-se com o facto de qualquer vacina para o Dengue ter de proteger contra os quatro serotipos existentes, porque um paciente que já tenha sido infetado com um dos serotipos terá maior probabilidade de sofrer formas mais graves da doença se for infetado com um novo serotipo.

Por isso, uma vacina que seja eficaz para apenas alguns dos serotipos pode colocar os pacientes em maior risco de desenvolver a forma mais severa do Dengue.

A vacina agora testada, chamada TV003 e desenvolvida por cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde, dos EUA, já protegia contra os serotipos 1, 3, e 4, mas não induzia uma resposta imunitária suficientemente forte para o serotipo 2.

Neste ensaio controlado, liderado por Beth Kirkpatrick, do Centro de Testes de Vacinas da Universidade de Vermont, os cientistas usaram um método já testado em outras doenças, como a malária, em 41 adultos saudáveis que nunca tinham sido expostos ao vírus do Dengue.

Vinte e um deles receberam uma dose única da vacina e os restantes 20 um placebo.

Seis meses depois, todos foram infetados com uma forma enfraquecida do serotipo 2 do vírus do dengue, o mais difícil de prevenir.

Enquanto todos os voluntários que receberam o placebo desenvolveram sintomas ligeiros, como erupções cutâneas e baixa contagem dos glóbulos brancos, nenhum dos indivíduos vacinados teve qualquer destes sintomas, tendo ficado completamente protegido da infeção.

Embora este tipo de teste, em que os voluntários são expostos a patogénicos em condições cuidadosamente controladas, não chegue para atestar a eficácia da vacina, os cientistas acreditam que serve para identificar uma vacina promissora ou para impedir as vacinas menos eficazes de progredir para ensaios clínicos de larga escala.

Stephen Whitehead adiantou que os resultados agora apresentados já levaram o Instituto Butantan, em São Paulo, no Brasil, a realizar um ensaio clínico de larga escala da mesma vacina.

Este novo ensaio clínico, que começou a 22 de fevereiro, deverá envolver 17 mil adultos, adolescentes e crianças num ambiente em que o Dengue está naturalmente presente e deverá durar um ano.

Estima-se que, se tudo correr bem, a vacina possa ser candidata a registo em 2018, disse aos jornalistas, numa teleconferência, Anna Durbin, autora sénior do estudo e investigadora no departamento de saúde internacional da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg.

“Sabendo o que sabemos sobre esta nova vacina, estamos confiantes de que vai funcionar”, disse Durbin. “E temos de ter a certeza: o dengue é único e, se não acertarmos, podemos fazer mais mal do que bem”.