O número de casos de tuberculose está a baixar, mas muito lentamente, e a este ritmo a Europa só conseguiria eliminar totalmente casos novos da doença no ano de 2100, ou seja, daqui a 84 anos. No grupo de países da Europa e da Ásia Central, o número de novos casos está a cair em média 5,2% por ano.

Desde 2005 que o número de novos casos de tuberculose tem caído em média 5,2% por ano – um decréscimo menor entre 2010 e 2014, apenas 4,3% -, constituindo um dos decréscimos mais acentuados em todo o mundo. Em Portugal, verifica-se a mesma tendência decrescente, com um declínio equivalente à da União Europeia/Espaço Económico Europeu – 4,5%. Os resultados foram apresentados esta quinta-feira no oitavo relatório conjunto entre o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) e Gabinete Regional da Europa da Organização Mundial de Saúde (OMS/Europa) – que compreende 53 países.

A diminuição do número de casos em Portugal tem sido, ao longo dos últimos 10 anos, mais acentuada no grupo etário entre os 15 e os 44 anos. Já a partir dos 45 anos o ritmo de redução de número de casos ao longo dos anos tem sido menor. Ainda assim, Portugal, com 21,3 casos por 100 mil habitantes, está próximo do grupo com menor incidência – aqueles que têm menos de 20 casos por 100 mil habitantes, como a Alemanha, o Reino Unido ou a Grécia.

Tuberculose em Portugal_ECDC WHO-Europe

Número de casos de tuberculose em Portugal entre 2005 e 2014 (à direita por grupo etário) – ECDC & WHO/Europe

A tuberculose continua a ser uma das principais preocupações de saúde para a OMS/Europa. Estima-se que em 2014 existissem entre 320 mil e 350 mil casos de tuberculose na região europeia da OMS, o que equivale a uma média de 37 casos por 100 mil habitantes. A doença será considerada eliminada quando se registarem anualmente menos de um caso de tuberculose por milhão de habitantes. Mas a este ritmo a Europa não conseguirá eliminar a doença antes de 2100, disse ao Observador o ECDC.

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Os países desta região que não pertencem à União Europeia (UE) ou ao Espaço Económico Europeu (EEA, na sigla em inglês) têm taxas altas de tuberculose e de resistência da bactéria a várias dos medicamentos usados. Por outro lado, os países da UE e EEA apresentam um número significativo de casos tuberculose entre as populações mais vulneráveis, como imigrantes e prisioneiros.

“Se a tuberculose não for convenientemente combatida nos grupos vulneráveis, não será eliminada como planeado”, alertou a diretora do ECDC, Andrea Ammon, em comunicado de imprensa. “As circunstâncias sociais e o estilo de vida podem tornar mais difícil a algumas pessoas reconhecerem os sintomas de tuberculose, chegar aos serviços de saúde, seguir um tratamento ou ir a consultas regulares. Precisamos de pensar em intervenções feitas à medida para estas populações, que podem incluir equipas de proximidade ou assistência direta do tratamento.”

Os grupos mais vulneráveis, como as populações mais pobres e marginalizadas ou os imigrantes e refugiados, são também os grupos onde é mais provável o aparecimento de bactérias multirresistentes (com resistência a vários antibióticos). “Por causa das condições em que vivem, a tuberculose é, muitas vezes, diagnosticada muito tarde e é mais difícil para estes grupos completar o tratamento. Se queremos eliminar a tuberculose da Europa, ninguém deve ser deixamos para trás”, disse a diretora da OMS/Europa, Zsuzsanna Jakab.

A tuberculose e os migrantes

Há um consenso geral de que os migrantes e refugiados devem ter acesso a cuidados de saúde, quer tenham documentos ou não, quer se tenham conseguido registar ao não. A probabilidade de adoecerem com tuberculose aumenta com a falta de condições de salubridade onde vivem, mas está sobretudo dependente da incidência da doença no país de origem.

Em comunicado de imprensa, o ECDC e OMS/Europa referem que a probabilidade de os migrantes poderem transmitir a doença aos residentes europeus é mínima porque os contactos são limitados e a tuberculose não é facilmente transmissível. Mais, a Síria tem menos casos de tuberculose por ano do que a União Europeia – 17 casos em 100 mil habitantes, contra 37 casos em 100 mil habitantes.

É certo que o aumento do número de refugiados impõe uma pressão maior nos serviços de saúde dos países que os recebem. E, ainda que os refugiados constituam um grupo prioritário para a prevenção e controlo de algumas doenças, porque são um grupo vulnerável, isso não significa que representem uma ameaça à saúde pública na Europa, esclareceu o ECDC ao Observador.

O risco de os refugiados de adoecerem quando chegam à Europa tem aumentado devido à sobrelotação dos centros de acolhimento, onde as condições de higiene e salubridade estão comprometidas, acrescentou o ECDC. “Garantir níveis apropriados de acesso ao diagnóstico médico e aos serviços de tratamento e a implementação de rastreio apropriado ligado a esses serviços são importantes.”

A Organização Mundial de Saúde apresentou recomendações sobre o rastreio de tuberculose, especialmente em migrantes e refugiados de países com elevada taxa de incidência da doença e que viajaram e vivem em condições precárias. Esta é uma forma de evitar que os contactos mais próximos sejam contaminados, mas não deve de forma nenhuma ser usada para negar a entrada de migrantes ou refugiados.

As dificuldades de vencer a tuberculose

A tuberculose pulmonar é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também chamado de bacilo de Koch, e é a forma mais comum da infeção com esta bactéria. A vacina da BCG, constante do Plano Nacional de Vacinação, não previne a infeção, mas diminui a gravidade de algumas formas de tuberculose, como a meningocócica.

Tirando esta vacina dada às crianças, não existe nenhuma vacina contra a tuberculose e os doentes têm de ser tratados durante seis meses com um conjunto diferente de medicamentos. O tratamento prolongado é uma das dificuldades no combate à doença, porque alguns doentes não cumprem a medicação integralmente. A interrupção do tratamento ou a medicação intermitente podem potenciar o aparecimento de formas resistentes.

A resistência das bactérias a vários antibióticos (multirresistência) pode aparecer quando o tratamento não é adequado e aumentar por transmissão entre pessoas. “Se os doentes com tuberculose multirresistente não forem diagnosticados precocemente e tratados com sucesso, isso põe não só a vida deles em risco, mas aumentam o risco de transmissão da doença”, esclareceu o ECDC ao Observador.

A incidência de tuberculose na Europa aumentou rapidamente desde 1990 e atingiu o pico em 1999-2000, começando a diminuir a partir de 2005. Um dos problemas adicionais da tuberculose é que aparece como doença oportunista em doentes imunodeprimidos, com os seropositivos. Na região europeia da OMS, entre 18 mil a 21 mil casos de tuberculose são de doentes com VIH (vírus da imunodeficiência humana).