O diretor do programa de pescas da Interpol considera que Portugal “não está imune” ao fenómeno da pesca ilegal e que existem operações em curso contra o fenómeno a envolver agentes económicos portugueses, mas fora o âmbito da entidade que dirige.

“Existem operações contra a pesca ilegal em Portugal neste momento, mas não necessariamente apoiadas pela Interpol. Muitas vezes são investigações conduzidas a nível bilateral – com Portugal a falar diretamente com outro país – mas neste momento não existe uma operação em que a Interpol esteja diretamente envolvida”, disse à agência Lusa o diretor do programa de pescas da Interpol, que está integrada numa divisão de Segurança Ambiental da entidade.

Deon Burger, que falava à Lusa em Madrid – à margem de uma conferência de imprensa da Guardia Civil espanhola sobre uma operação contra a pesca ilegal – considera que Portugal não está livre deste problema.

“Não acredito que Portugal esteja imune ao fenómeno da pesca ilegal. Vemos que a pesca ilegal se produz a nível global e vemos que Estados europeus e muitos outros estão envolvidos. Acho que existe atividade ilegal, não especificamente em águas portuguesas, mas fora. Prevejo que se mantivermos a pressão e a cooperação podemos muito bem encontrar alguma coisa”, afirmou o coordenador da Segurança Ambiental da Interpol.

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A Guardia Civil espanhola revelou esta sexta-feira pormenores sobre uma operação, denominada “Operação Yuyus”, na qual foram detidos seis espanhóis relacionados com a família Vidal, proprietária da companhia Vidal Armadores. Os vários barcos pesqueiros desta empresa, que operavam em todo o mundo, terão capturado ilegalmente mais de 3.500 toneladas de merluza-negra (Dissostichus eleginoides) – uma espécie conhecida no mundo da pesca por “ouro branco” -, obtendo um lucro superior a 10 milhões de euros.

Deon Burger qualificou a empresa Vidal Armadores como um “modelo empresarial de delinquência organizada transnacional”, que operava a partir da localidade galega de Ribeira.

A atividade criminosa da empresa galega começou em 2005 e a Guardia Civil suspeita que a pesca ilícita de merluza negra poderá ter começado em 2002 ou mesmo antes.

A polícia espanhola revelou que a empresa mudava frequentemente o nome aos seus barcos, para enganar as autoridades e poder contornar os controlos internacionais. As autoridades dos cerca de 15 países que colaboraram com Espanha apreenderam várias embarcações da Vidal Armadores, entre os quais dois em Cabo Verde.

Questionado sobre o que vai acontecer aos barcos apresados em Cabo Verde, Deon Burger admitiu não saber, de momento, o que lhes vai acontecer. “É uma boa pergunta e provavelmente a resposta resultará da investigação que está a ser conduzida aqui. Não sabemos o que lhes vai acontecer, mas temos algumas ideias e a Guardia Civil está a trabalhar nesse ângulo”, salientou.

O capitão da José Manuel Vivar, comandante da Unidade Central Operacional de Meio Ambiente (UCOMA) do SEPRONA, a homóloga espanhola do SEPNA português, considerou que a Operação Yuyus “praticamente deixa fora da atividade ilegal a empresa Vilar Armadores” e representa “um marco na luta contra a pesca ilegal”.

A operação apresentada esta sexta-feira não envolve atividade ilícita em Portugal, ainda que o capitão Vivar tenha adiantado à agência Lusa que “dentro da parte legal da atividade da Vilar Armadores”, existia um barco de pesca com bandeira portuguesa.

“Dentro dessa parte legal, há um navio [da Vilar] com bandeira portuguesa e a pescar no norte de Portugal”, realçou o responsável da Guardia Civil.

“Se estão com bandeira portuguesa quando podiam ter a espanhola, por algo será. Pode ser por uma questão de quotas, mas insisto que não achamos que pode haver ali um delito. Não o investigamos porque não nos pareceu, mas procurando pode ser que se encontre alguma coisa”, concluiu.