Os bracarenses nem se podem queixar muito. O Sporting de Braga vai defrontar o Shakhtar Donetsk nos quartos-de-final da Liga Europa. Os ucranianos estão habituados a estas andanças e até conquistaram a última edição da Taça UEFA, em 2009, antes de a competição mudar de nome e de formato. Esta equipa, aliás, era uma de duas — a outra era o Sevilha — que estão na Liga Europa por terem ficado no terceiro lugar da fase de grupos da Liga dos Campeões. E isto é o mesmo que dizer que o Shakhtar até está habituado jogar na maior das provas europeias.

Ele e o homem que o treina. Mircea Lucescu tem 70 anos e já leva muitos anos disto. Vai na 12.ª temporada no clube e foi com o romeno que o Shakhtar começou a apostar na estratégia que o tem feito feliz — atacar com brasileiros e defender com os que sobram. É uma forma simplista de descrever a equipa, mas não anda longe da verdade que se tem visto nos últimos anos. Porque no Shakhtar Donetsk há Taison, Bernard, Wellington, Fred, Marlos, Dentinho e até Eduardo da Silva, um brasileiro que resolveu ser internacional pela Croácia.

Antes deles houve Douglas Costa (Bayern de Munique), Willian (Chelsea), Fernandinho (Manchester City) ou Luiz Adriano (AC Milan), homens com ginga no pé que entretanto seguiram para outros campeonatos. Como o fez Alex Teixeira, que em janeiro trocou o clube pela China e deixou a equipa sem o responsável por 26 golos em 26 jogos esta época. Foi por este e por outros que Mircea Lucescu saberá falar português e espanhol, embora a samba não seja a única dança que o Shakhtar tem na equipa.

O capitão é Darijo Srna, lateral direito croata que já é tanto uma mobília do clube como o é o treinador (chegaram ao Shakhtar na mesma época, em 2002/03). Tem 33 anos e, mesmo assim, ainda é o motor que se farta de correr para manter aquele flanco da equipa a funcionar. Lá atrás, na defesa, tem a companhia de Yaroslav Rakitskiy, um canhoto ucraniano que é duro a defender e rigoroso a passar a bola. Quando este olha para a esquerda costuma ver Márcio Azevedo, um lateral que tem o cabelo igual a Marcelo, do Real Madrid, mas que gosta bem mais de atacar do que de defender.

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Há anos que o Shakhtar Donetsk é quase como um filtro de jogadores sul-americanos, comprando-os novos e bons para fazê-los crescer e torná-los melhores para, depois, vendê-los caro. Não é costuma ver o clube ucraniano a comprar estrelas europeias ou até brasileiros que já estejam a jogar na Europa — uma das raras exceções, aliás, foi Ismaily, brasileiro que em 2012/13 foram buscar ao Sporting de Braga.

Como o Braga se safou de boa

Cinco anos depois, os minhotos correm atrás de um brilharete que levante as sobrancelhas da Europa. Já dizia Paulo Fonseca na noite quinta-feira, a quente, minutos depois de eliminar o Fenerbahce da competição: “Tenho a certeza que já repararam em nós”. Como repararam em 2011, quando os minhotos foram finalistas vencidos numa final portuguesa, que conquistada pelo FC Porto de Villas-Boas, com golo de Falcao.

Para aqui chegar, aos “quartos”, o Braga de Paulo Fonseca venceu o Grupo F, batendo a concorrência de Marselha, Slovan Liberec e FC Groningen. Nos 1/16 de final, os bracarenses despacharam os suíços do Sion. No último duelo, no épico duelo de quinta-feira, a equipa portuguesa, depois de ter perdido na Turquia, goleou o Fenerbahçe de Vítor Pereira por 4-1. E agora, no sorteio, não se pode dizer que os minhotos tenham tido azar.

Na rifa podia-lhes ter calhado o Borussia Dortmund, alemães que jogam de amarelo, têm das melhores médias de assistência da Europa no seu estádio e estão a morder os calcanhares ao Bayern de Munique, na Bundesliga. O clube, que também está habituado a andar pela Liga dos Campeões, calhou com outra das equipas que o Braga faz bem em evitar, o Liverpool. E o facto de o sorteio os ter emparelhado faz com que os adeptos do Dortmund preparem as boas-vindas ao homem que ajudou a fazer do clube um dos tubarões que nadam pelo futebol europeu — Jürgen Klopp, que agora treina o Liverpool. E foi no estádio dos alemães que, em 2001, os ingleses conquistaram a última de três Ligas Europa que têm no museu.

Paulo Fonseca também poderá estar a sorrir por ter evitado o Sevilha, única equipa a ter vencido a competição duas vezes seguidas, por um par de vezes na história (entre 2005 e 2007 e, depois, entre 2013 e 2015). Os andaluzes vão jogar contra o Athletic Bilbao, os bascos que estão pela terceira vez nesta fase da Liga Europa e que, nas anteriores, conseguiram sempre chegar à final — numa dessas caminhadas, em 2011/12, eliminaram o Sporting de Ricardo Sá Pinto.

O outro jogo será entre o Sparta de Praga, que divide as surpresas desta Liga Europa com os minhotos, e o Villarreal, espanhóis que trataram de eliminar a equipa que correu com os leões desta edição da competição, o Bayer Leverkusen.

Os duelos dos quartos-de-final da Liga Europa:

Sporting de Braga – Shakhtar Donetsk

Villarreal – Sparta de Praga

Athletic Bilbao – Sevilha

Borussia Dortmund – Liverpool