O artista português Alexandre Farto, que assina como Vhils, inaugurou esta segunda-feira a sua primeira exposição individual, em Hong Kong, uma mostra que reflete a cidade e a identidade de quem nela habita para ver e, sobretudo, “sentir”.

“Debris”, no topo do Pier 4 (Cais 4), é a primeira exposição individual de Vhils na antiga colónia britânica, onde circula, há uma semana, um elétrico intervencionado pelo artista português, no âmbito da mostra esta segunda-feira inaugurada.

A exposição, com aproximadamente 50 peças, em diferentes materiais, resulta de um “trabalho muito intenso, de quase dois anos de preparação”, no âmbito de uma residência artística em Hong Kong, que serviu a Vhils para “tentar absorver a dinâmica e a energia da cidade – um momento muito único também -, e de a captar”, afirmou.

“As peças vão refletir muito dessa vivência”, realçou o artista à agência Lusa, à margem da inauguração de “Debris”, que juntou dezenas de pessoas, apesar da intensa chuva que se abateu sobre Hong Kong, ao final da tarde.

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“Não sei o que esperar, mas foi um projeto muito intenso”, partilhou Vhils, para quem se trata de uma exposição que “é preciso sentir”, porque muitas das peças, que vão estar patentes ao público até ao dia 04 de abril, são interativas.

As obras de Vhils, normalmente, abrem-se ao “espaço urbano das cidades” onde trabalha e “são uma reflexão sobre a cidade e a identidade das pessoas dessa mesma cidade”, e Hong Kong não foi exceção, porque esse é, afinal, “o mote” do seu trabalho.

Além do elétrico, o artista também realizou intervenções em paredes, a convite da Fundação HOCA — Hong Kong Contemporary Art, como antecipações à inauguração da mostra desta segunda-feira, estando atualmente “em processo”, em Hong Kong, mais dois murais da autoria de Vhils.

“É possível que, depois, surjam mais projetos também”, sublinhou. Embora com “vários” em vista, prefere não falar deles antes de acontecerem: “Gosto de ter liberdade para poder mudar de opinião”, afirmou o artista que, depois de “Debris” apenas anseia, diz entre risos, “uma semana de sono”.

Vhils vai permanecer em Hong Kong, para lá da duração de “Debris”: “É uma cidade que tem uma energia muito própria e tem-me ajudado bastante a evoluir com o trabalho também, e esta relação é para manter por enquanto”.

A possibilidade de uma intervenção em Macau — ao lado de Hong Kong — não está descartada: “Adorava, mas ainda não apareceu a oportunidade certa para fazer um projeto que eu sinta que queira fazer”, afirmou.

As obras da exposição de Hong Kong dividem-se por uma série de salas, consoante a técnica ou tipo de trabalho, atravessadas por um corredor comprido, onde se transmite um vídeo da cidade em movimento – mas a um ritmo lento, focando pequenos e simples momentos que o ritmo do dia-a-dia não permite apreciar plenamente –, sempre com um batimento de fundo a marcar a passada.

De grande dimensão, logo depois dos ecrãs, surge uma instalação, toda em branco, da cidade, que o olhar capta também por via dos reflexos de grandes espelhos, posicionados para proporcionar diferentes ângulos sobre a ‘maquete’ de Hong Kong, com os seus altos edifícios.

“Vhils destrói para criar” e “torna visível o invisível”, afirmou a curadora da exposição, Lauren Every-Wortman, da Fundação HOCA, para quem Vhils “mudou muito” evoluindo do ‘graffiti’ para a arte contemporânea, sem nunca perder, porém, a conexão com o lugar onde começou: a rua”.

Nos trabalhos apresentados, Vhils desconstrói imagens com recurso a técnicas como perfuração, colagens de cartazes, caixas de néon e escultura.

Alexandre Farto, 29 anos, captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional, e que já o levou a vários cantos do mundo.

A técnica que notabilizou Vhils consiste em criar imagens, em paredes ou murais, através da remoção de camadas de materiais de construção.

Além das paredes, já aplicou a mesma técnica em madeira, metal e papel, nomeadamente em cartazes que se vão acumulando nos muros das cidades.