A associação dos lesados do Grupo Espírito Santo considerou que a reunião desta terça-feira com os reguladores Banco de Portugal e CMVM “correu bem”, adiantando que em breve será firmado um memorando que prevê a compensação dos clientes.

Segundo explicou o presidente da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC), esse memorando de entendimento deverá ser assinado “nas próximas semanas” por todas as partes que se reuniram esta terça-feira durante três horas na sede da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em Lisboa.

O responsável sublinhou, contudo, que não se “trata ainda da solução material”, com o valor que os clientes receberão para compensar pelo dinheiro perdido por ter investido em papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES).

“É um pressuposto de boas intenções. É uma afirmação em que estamos todos de boa-fé, empenhados em arranjar uma solução o mais rápido possível”, disse Ricardo Ângelo à Lusa, afirmando acreditar que até abril será possível fechar o acordo com o valor que será pago a cada cliente.

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Em causa estão 2.084 subscritores de papel comercial que reclamam 432 milhões de euros, sendo que esses clientes subscreveram papel comercial de empresas do GES mas vendido aos balcões do BES.

O dinheiro foi quase dado como completamente perdido aquando da ‘implosão’ de todo o grupo da família Espírito Santo, em 2014.

A associação que representa os lesados já admitiu por várias vezes que é provável que haja perdas para os clientes, que cada um poderá não conseguir recuperar tudo o que investiu, mas que irá lutar pelo “máximo possível”.

A reunião desta terça-feira à tarde juntou representantes da Associação dos Lesados, da CMVM, do Banco de Portugal, do Governo e ainda do BES, o ‘banco mau’ que ficou com os chamados ativos ‘tóxicos’ do Banco Espírito Santo (BES), uma vez que poderá ser chamado a participar na compensação a estes clientes.

Para esta semana já não está previsto qualquer encontro, devendo acontecer já depois da Páscoa.

Apesar de os lesados do papel comercial do GES terem vindo a desenvolver várias ações para recuperar o dinheiro desde o colapso do grupo, já em 2014, este tema ganhou ênfase depois de, em fevereiro, o primeiro-ministro, António Costa, ter censurado publicamente o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, por estar a “arrastar” uma solução para o problema, pressionando um entendimento.

Em junho de 2015, o governador do Banco de Portugal tinha dito no parlamento que a solução para os lesados do BES tinha de vir da CMVM e não da entidade que dirige, uma vez que se trata de valores mobiliários e não de depósitos, e reafirmou que as responsabilidades pelos lesados do papel comercial do BES não podem ser atribuídas ao Novo Banco, mas sim ao próprio BES.

Das informações recolhidas pela Lusa junto de fontes ligadas ao processo, em cima da mesa está a possibilidade de o valor a pagar ter várias origens, como o Fundo de Resolução bancário (do Banco de Portugal e participado pelos bancos), o Sistema de Indemnização aos Investidores (na esfera da CMVM) e mesmo do ‘banco mau’ BES.

Até agora, não estará a ser equacionada a entrada de dinheiro diretamente do Orçamento do Estado.