Com a licença de todos os que clicaram no título atraídos somente pela ideia de um restaurante especializado em nacos da terra e do mar, este artigo começa com um desvio precoce, mas necessário, à sua temática central. Porque tal como a boca é apenas uma cavidade do corpo humano — preciosíssima é certo, mas não mais que isso — também o Boca Café se insere num organismo bem maior, as Galerias de São Bento.

“E que diabo são as Galerias de São Bento e porque é que isso me interessa?”, perguntarão, quiçá, alguns leitores, irritados por ainda não estarem a ler sobre black angus ou atum braseado. A esses pedimos-lhes calma, que o projeto se explica em dois parágrafos. Trata-se de um espaço multidisciplinar que ocupa um antigo edifício da família da sua mentora, Grácia Veiga. A expressão multidisciplinar, que mais vezes se usa por questões de comprimento e eloquência do que pelo seu real significado, traduz-se aqui em quatro valências, além do restaurante propriamente dito: uma loja, um espaço de cowork para 22 pessoas, uma sala de eventos e um boutique hotel com 25 suites a abrir no início do próximo ano.

bocacafe_marco-2

O Boca Café é parte de um complexo maior: as Galerias de São Bento.
(foto: © miguelguedesramos.com)

A ideia, conta Grácia, é “ligar pessoas, conceitos e ideias num só espaço”. E isso pode acontecer através de exposições, como a Deslocado, que esteve no Hospital Júlio de Matos e que transita agora para as Galerias, ações de formação, concertos, apresentações, ou até mesmo com simples sessões de brainstorming no terraço do complexo. “No futuro, a loja irá vender marcas que vão nascer aqui, porque também queremos que isto sirva como incubadora”, explica a responsável.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tudo isto é muito bonito e cosmopolita, é certo, mas só tem metade da graça se acontecer com estômagos vazios. É aqui que o Boca Café entra na conversa. E na prosa. O restaurante das Galerias de São Bento está à responsabilidade de dois amigos de longa data: João Veiga, que é irmão de Grácia, e Pedro Seabra.

Apesar da juventude, 26 anos, João tem no currículo projetos como a guesthouse Dear Lisbon ou a marca de óculos de sol FORA. E foi ele que convenceu Pedro — que estudou hotelaria em Espanha e estagiou em vários países — a alinhar na aventura. Não terá sido difícil, até porque a queda para a restauração está nos genes do amigo: o La Trattoria, o italiano mais antigo de Lisboa, pertence à sua família.

boca_cafe_2-8

O restaurante tem um pátio muito apetecível nas traseiras.
(foto: © miguelguedesramos.com)

Mas apesar dos pergaminhos da família de Pedro no que às massas e afins diz respeito, o conceito do Boca Café não tem sotaque italiano. “Quisemos criar uma carta muito simples, apostando num conceito de nacos”, atira João. E mais simples, de facto, era difícil. Há apenas dois pratos principais: um naco da terra (12,50€), um pedaço de black angus, ou o naco do mar (12,50€), lombo de atum, ambos grelhados. Podem ser servidos nas tábuas artesanais, feitas em madeira de castanheiro — todas elas diferentes entre si — com hipótese de escolher entre seis guarnições, como puré de boletos selvagens (3€) ou risotto de açafrão e lima (3,50€), mas também em pão de forno de lenha, numa versão prego (10,50€) com direito a batatas fritas acompanhantes.

Desengane-se, contudo, quem pensar que o leque de escolhas ficará por aqui. E desengane-se duas vezes. Primeiro porque a procissão criativa dos responsáveis ainda mal saiu do adro. “Estamos a criar uma opção vegetariana, que será o naco da horta, e também a desenvolver ideias para ter o naco do mês, com uma opção diferente todos os meses, em que a pessoa sabe que se quer vir prová-la tem de vir cá nessa altura”, revelam. Depois, porque além dos nacos a carta inclui sete entradas, cada qual com o seu carimbo no passaporte: de umas tortitas de miolo de sapateira (8€) de inspiração mexicana, a uns boquerones em vinagre de sidra (7€) à espanhola ou à clássica salada vietnamita (9,50€). A coordenar tudo isto está o chef luso-espanhol Luís Fernandez, que depois algum tempo a trabalhar com José Avillez passou dois anos na cozinha do La Trattoria.

bocacafe_marco-27

A salada vietnamita é uma das sete sugestões de entradas.
(foto: © miguelguedesramos.com)

O espaço não é amplo, pelo contrário, mas está bem decorado e tem dois argumentos que serão do agrado de muitos: lugares ao balcão — são apenas seis, mas podiam não ser nenhuns — e um pátio com esplanada que, garante João Veiga, no próximo inverno já terá direito a aquecimento. Muito antes disso deverá começar a receber almoços e outras refeições diurnas: em breve o restaurante passará a abrir mais cedo e a funcionar em horário contínuo, sem interrupções.

Nome: Boca Café
Morada: Galerias de São Bento, Rua de São Bento, 33 (São Bento), Lisboa
Telefone: 96 970 6422
Horário: De terça a domingo, das 19h às 00h. No futuro irão funcionar durante o dia, também, de forma contínua.
Preço Médio: 25€
Reservas: Aceitam
Site: bocacafe.pt
Outras informações: Estacionamento garantido aos clientes na garagem Auto Malpique (Rua de São Bento, 9) com oferta de uma hora