Carlos Zorrinho, eurodeputado socialista, estava já no avião, prestes a descolar, quando o comandante afirmou que teriam de voltar para trás. Aos poucos, através de contactos com Bruxelas por parte da sua equipa e outros passageiros, Carlos Zorrinho percebeu que tinha havido explosões no Zavantem. Também Nuno Melo, eurodeputado do CDS, estava quase a embarcar quando foi informado de que não poderia viajar para Bruxelas. Fernando Ruas, social-democrata, já tinha ficado retido em Portugal na noite de segunda-feira devido à greve de controladores aéreos em França. Já Marinho e Pinto não consegue avião para voltar e deverá passar Páscoa em Bruxelas.

Marinho e Pinto, eleito como independente do MPT – entretanto incompatibilizado com o partido -, chegou ao Parlamento Europeu por volta da altura em que aconteceram as explosões no aeroporto, dizendo ainda que entretanto já saiu das instalações do Parlamento e passeou pelas imediações do edifício, descrevendo que o trânsito está cortado e que há soldados armados em frente ao Parlamento. “Não tenho medo nenhum e o clima de preocupação é o que os terroristas querem para se generalizar o medo e o terror”, afirmou o eurodeputado ao Observador. Marinho e Pinto estava a tentar agendar um novo voo, já que tinha voo na quarta-feira para Lisboa e o aeroporto se vai manter fechado. “Está tudo cheio em Amesterdão, Luxemburgo e Paris. Estou a ver que vou aqui passar a Páscoa para mostrar aos terroristas como é”, afirmou ainda o eurodeputado.

Os três eurodeputados que estão em Portugal asseguram-se então de que as suas equipas de assessores que permanecem em Bruxelas estão a salvo e trocam várias mensagens com outros eurodeputados. Fernando Ruas disse ao Observador que estava particularmente preocupado, porque vive em Maelbeek e apesar de ter sentido o aumento da segurança nos últimos meses, afirma que este reforço é “discreto”. “O clima na cidade foi algo que sempre me impressionou, já que a vida, apesar de ter havido um aumento da segurança nas ruas, corre normalmente, pois as pessoas optam por fazer a sua vida normal e não desistem de viver”, disse o eurodeputado.

Carlos Zorrinho contava participar esta tarde na primeira reunião da comissão de inquérito do Parlamento Europeu sobre emissões poluentes, mas soube entretanto que tinha sido cancelada, tal como outras reuniões e comissões que deveriam decorrer durante a tarde. A indicação do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, é que amanhã todos os funcionários fiquem a trabalhar a partir de casa e apenas o edifício Altiero Spinelli – um dos vários que constitui o Parlamento – estará aberto, com segurança reforçada. O Parlamento aumentou o nível de segurança para alerta laranja.

Também Nuno Melo diz que este é um momento para ter cautela e lembra que o Parlamento Europeu se manteve, durante estes meses, em alerta amarelo. “Não podemos ficar paralisados pelo medo, embora o risco exista”, assegurou o eurodeputado ao Observador. Em relação às discussões que se seguem em Bruxelas sobre possíveis reforços de segurança, o centrista diz que as ações têm de ser “racionais” e que atentados como os que aconteceram em Bruxelas servem de aviso aos que “exacerbam todas as liberdades”. “Alguma coisa tem de ser feita e não podemos culpar a exclusão social na Europa. Estou envolvido na discussão do PNR [Registo de Identificação de Passageiros] e este diploma tem sido esgrimido no Parlamento sem resolução até agora”, afirmou o eurodeputado.

Os eurodeputados com quem o Observador falou não vão voltar para Bruxelas esta semana, já que quinta-feira é feriado na Bélgica e que depois é Páscoa. Regressam à sua atividade parlamentar para a semana. O Observador tentou ainda contactar outros eurodeputados, mas não foi possível até agora falar com mais eleitos portugueses em Bruxelas.

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