Morreu Johan Cruijff. O jogador holandês, ex-treinador do Barcelona e do Ajax, tinha 68 anos e não resistiu a um cancro do pulmão. A notícia foi dada pela página oficial de Facebook de Cruijff. “A 24 de março de 2016, Johan Cruijff (68) morreu pacificamente em Barcelona, rodeado da família, depois de uma luta dura contra o cancro”, lê-se nessa nota.

O ex-jogador, que consta de todas as listas dos maiores futebolistas de todos os tempos e que ganhou por três vezes a Bola de Ouro para melhor jogador do mundo, descobriu que tinha cancro em outubro do ano passado.

“Depois de vários tratamentos médicos posso dizer que os resultados foram muito positivos, graças ao trabalho excelente dos médicos, ao afeto das pessoas e ao meu pensamento positivo. Tenho a sensação de que estou a ganhar 2-0 na primeira parte de um jogo que ainda não acabou. Mas tenho a certeza de que vou ganhar”, dizia em fevereiro.

Veja aqui as fotografias da vida de Johan Cruijff.

Nascido em 1947, Cruijff foi o expoente máximo do “futebol total”, um estilo de jogo em que todos defendem e todos atacam, que notabilizou a seleção holandesa durante a década de 1970, particularmente durante o Mundial de 1974 (que a Laranja Mecânica perdeu para a Alemanha). Na final dessa competição, em Munique, Cruijff, que era uma das sensações do torneio, esteve cara a cara com outro grande nome do futebol europeu: Franz Beckenbauer. O alemão levou a melhor nessa ocasião, mas o holandês é que foi considerado o melhor jogador do mundo logo a seguir.

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Enquanto jogador, Cruijff ganhou oito campeonatos e três Taças dos Campeões Europeus consecutivas pelo Ajax e apenas um título nacional pelo Barcelona. Seria como treinador, no entanto, que Cruijff conheceria a glória no clube catalão. Entre 1990 e 1994 ganhou todos os campeonatos nacionais de Espanha, uma Taça dos Campeões Europeus e uma Supertaça Europeia. Na equipa que, em 1992, ganhou o maior título europeu, estava um rapaz então desconhecido: Pep Guardiola, que mais tarde viria a também alcançar a glória no Barça. O ex-internacional holandês teria, aliás, grande influência em treinadores como o próprio Guardiola, Louis Van Gaal, Frank Rijkaard e Laudrup.

Como a laranja se mecanizou

O nome de Cruijff está inevitavelmente ligado ao de Rinus Michels, o treinador que primeiro pôs o Ajax no caminho das vitórias europeias e, depois, quase levou a seleção da Holanda à vitória no Mundial de 1974. Johan esteve em ambos os momentos. Em 1965, quando Michels tomou conta do Ajax, Cruijff tinha apenas 17 anos mas já era uma estrela em ascensão no clube de Amesterdão. Menos de um ano depois, durante a Taça dos Campeões Europeus, o Ajax conseguia vitórias expressivas contra o Besiktas (4-1 nas duas mãos) e sobretudo contra o Liverpool (5-1 num só jogo), à data um dos clubes grandes de Inglaterra.

“Porque é que não conseguimos vencer um clube mais rico? Nunca vi um saco de dinheiro a marcar um golo”

Cruijff e Michels conseguiram, juntos, ganhar a Taça dos Campeões Europeus de 1971 (3-0 contra o Panathinaikos) e o treinador partiu logo de seguida para o Barcelona. Uns anos mais tarde, quando pendurou as chuteiras e trocou o equipamento pelo fato de treinador, Cruijff seguiu-lhe quase as mesmas pisadas. Mas o percurso comum dos dois passou ainda pela seleção da Holanda, — que Rinus Michels transformou na máquina de futebol total que lhe deu o epíteto de Laranja Mecânica –, e pelo Los Angeles Aztecs, a equipa americana detida em parte por Elton John que queria fazer frente ao New York Cosmos onde jogava… Franz Beckenbauer.

“Estou em choque. Johan Cruijff morreu. Ele não só era um muito bom amigo como era um irmão para mim.”

https://www.youtube.com/watch?v=GDoqv74egBM

O dream team que levou o Barça às páginas da História

Se dúvidas houvesse sobre a influência que Cruijff teve no Barcelona (e no futebol mundial), o penálti que Leonel Messi marcou há umas semanas é bem a prova disso. O nome de Cruijff foi lembrado nessa altura porque o ex-internacional holandês foi dos primeiros a marcar um penálti sem rematar diretamente à baliza.

À semelhança do que já tinha acontecido com Rinus Michels, o treinador Cruijff trocou o Ajax pelo Barça em 1988, numa altura em que o clube catalão passava por um jejum de títulos significativo. Logo na primeira época, com jogadores que marcariam essa geração (Guardiola, Koeman, Stoichkov), Cruijff conseguiu que o Barça fosse segundo na Liga, logo atrás do Real Madrid. Entre 1989 e 1994, com a chamada dream team, o Barça ganhou inúmeros títulos: quatro campeonatos nacionais, uma Taça dos Campeões Europeus (com aquele golo de Koeman), uma Taça das Taças, uma Supertaça Europeia e taças espanholas.

Além disso, o holandês foi responsável por uma das grandes marcas do Barça, que ainda hoje continua a dar frutos. Chama-se La Masia, é a academia onde são treinados os futuros jogadores da equipa catalã e foi uma ideia que Cruijff trouxe de Amesterdão. Daquela fábrica de talentos já saíram jogadores como Fabregas, Busquets, Messi, Pedro Rodríguez, Piqué, Iniesta e Xavi Hernández.

“Jogar futebol é muito simples, mas jogar futebol simples é a coisa mais difícil de fazer”

Mundo do futebol lamenta perda de um dos grandes

Em 2014, o jornal inglês The Guardian fez uma lista dos cem melhores jogadores de Mundiais de todos os tempos. Cruijff só participou em um, o de 1974, mas não ficou abaixo do sexto lugar (no primeiro ficou Pelé; Eusébio ficou em 11º lugar). Esta quinta-feira, dia em que se soube da morte do génio holandês, multiplicam-se as homenagens de colegas futebolistas, jornalistas de desporto e treinadores.

“O meu primeiro treinador no estrangeiro, um dos melhores treinadores que alguma vez tive. Um homem muito importante na minha carreira. Tivemos uma grande perda”

https://twitter.com/SimonNRicketts/status/712983763978944512

Sobre este drible, Jan Olsson (o defesa que se deixa bater) disse mais tarde: “O momento que me deixa mais orgulhoso da minha carreira. Pensava que ia ganhar a bola de certeza, mas ele enganou-me. Não me senti humilhado, não tive qualquer hipótese. Cruijff era um génio.”

“Triste por saber que Johan Cruijff morreu. O futebol perdeu um homem que fez mais do que qualquer outro para tornar ainda mais bonito o jogo bonito.”

“Profundamente triste pela morte do meu melhor treinador e bom amigo. Obrigado por tudo. Para sempre nos nossos corações.”