Os proprietários de seis quadros da artista Maria Helena Vieira da Silva, que se encontram no museu da pintora, em Lisboa, aceitam trocar as obras por terrenos do Estado, disse este domingo à agência Lusa fonte da família. As obras tinham sido emprestadas ao museu, num acordo de cedência que terminou no final de 2015, e, desde então, os proprietários entraram em negociações com o novo Governo.

“Nós aceitámos uma proposta na última reunião, que teve lugar no dia 1 de março”, indicou João de Brito, um dos herdeiros do colecionador Jorge de Brito, contactado pela agência Lusa, sobre a última proposta apresentada pelo Estado.

Na edição do fim de semana, o semanário Expresso escreveu que, segundo fonte do Ministério da Cultura, liderado por João Soares, a permuta de terrenos pelos quadros, avaliados em seis milhões de euros, foi feita há mais de um mês, e falta determinar a localização e o tipo de terreno.

“O Governo está a analisar questões internas para decidir como efetivar a operação que foi proposta”, disse João de Brito à Lusa, acrescentando que o Ministério da Cultura tinha indicado que, para isso, precisava “cerca de um mês”.

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Na audição parlamentar, sobre o Orçamento do Estado para 2016, o ministro da Cultura, João Soares, disse aos deputados estar a trabalhar numa perspetiva de “troca de património pelas obras”, de modo a manter os quadros de Vieira da Silva em Portugal.

O acordo de cedência das seis obras, pelos herdeiros, à Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva (FASVS), válido por cinco anos, terminou no final de dezembro de 2015, e os herdeiros tinham indicado, na altura, à Lusa, a intenção de vender as obras em leilão, caso não houvesse disponibilidade do Estado para a aquisição das pinturas.

Os herdeiros chegaram a negociar, em julho do ano passado, com a então Secretaria de Estado da Cultura, uma proposta alternativa, que foi aceite, mas “parece que não houve capacidade para implementá-la”, segundo os herdeiros.

A diretora do museu, Marina Bairrão Ruivo e o presidente da FASVS, António Gomes de Pinho, têm vindo a defender a manutenção dos quadros no museu, que detém um significativo acervo da pintora, e que se dedica, desde 1995, à divulgação da obra de Vieira da Silva (1908-1992) e do marido, também artista, Arpad Szénes (1897-1985).

As seis pinturas em causa – “Novembre” (1958), “La Mer” (1961), “Au fur et à mesure” (1965), “L’Esplanade” (1967), “New Amsterdam I” e “New Amsterdam II” (1970) – estão expostas em conjunto, numa sala do Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva.

A Fundação Vieira da Silva foi criada em 1994 e, na altura, o colecionador Jorge de Brito (1927-2006) – que reuniu uma das mais importantes coleções nacionais de arte da segunda metade do século XX – depositou ali 22 obras da pintora, a título de empréstimo. A família contestou sempre um processo de classificação das obras feito pelo Estado, e acabou por retirar progressivamente todas as telas do museu, até meados de 2011.

O arquivamento do processo de classificação, em julho de 2011, durante a tutela de Francisco José Viegas, como secretário de Estado da Cultura, levou a família Brito a decidir estabelecer outro acordo de cinco anos, para depositar novamente alguns quadros de Vieira da Silva na FASVS, com possibilidade de compra pela fundação ou pelo Estado.

No mesmo ano, os herdeiros de Jorge de Brito realizaram em Paris, um leilão de várias obras do colecionador, tendo sido vendido um quadro de Vieira da Silva por 1,5 milhões de euros. Nascido em Lisboa, em 1927, Jorge de Brito trabalhou no setor financeiro e adquiriu vários bancos que vieram dar origem ao antigo Banco Internacional Português, e também várias empresas nas áreas do turismo, agricultura e comércio.

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, foi viver para Paris, regressando a Portugal no início dos anos de 1980, restabelecendo as suas atividades. Foi vendendo algumas das peças de arte, nomeadamente à Fundação Calouste Gulbenkian, mas manteve uma coleção privada.

A paixão pela arte e pela história resultou numa coleção com cerca de 3.000 obras, na sua maioria na área da pintura, especialmente do período barroco, e também do século XX. A Lusa contactou o Ministério da Cultura sobre as negociações com os herdeiros de Jorge de Brito, mas, até ao momento, não obteve uma resposta.