Cientistas da Universidade do Texas anunciaram ter desenvolvido um modelo de rato para testar vacinas e medicamentos contra o vírus zika, o que promete acelerar o processo de desenvolvimento de fármacos para aquela doença.

“Há uma enorme necessidade de verificar antivirais, que têm estado atrasados porque não temos tido uma boa forma de os testar”, disse Shannan Rossi, virologista da Unidade Médica da Universidade do Texas, que coordenou o estudo.

O cientista explicou que, sem o modelo agora desenvolvido, os esforços dos investigadores para desenvolver novos tratamentos “estavam estagnados”.

“Podíamos verificar a eficácia [dos medicamentos] em culturas de células, mas isso não nos dizia quase nada sobre o que acontece quando testamos num rato ou num humano. Isto vai ajudar a pôr os candidatos a medicamentos e vacinas a avançar”.

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Publicado na revista científica American Journal of Tropical Medicine and Hygiene (AJTMH), o estudo é apresentado como a primeira publicação revista pelos pares de um modelo de rato para o zika em décadas.

O modelo já está disponível para testes de antivírus e o coautor do estudo Scott Weaver, virologista e biólogo de vetores, diz que já estão a decorrer ensaios preliminares com um antiviral contra o dengue, desenvolvido por outro cientista da equipa da Universidade do Texas, Pei-Yong Shi.

“Normalmente, criar um modelo de rato como este levaria vários meses, mas a urgência da situação impeliu-nos para esta resposta rápida, e conseguimos estes resultados em apenas três semanas”, disse Rossi.

Os cientistas injetaram diferentes variedades de ratos de laboratório com o vírus zika isolado na Ásia em 2010, da mesma linhagem do vírus que circula atualmente na América do Sul.

Os ratos normais não desenvolveram a doença com o vírus zika, mas os cientistas injetaram depois ratos que tinham sido geneticamente modificados para terem uma resposta imunitária deficiente. Esses ratos geneticamente modificados já desenvolveram a doença.

Inicialmente identificado no Uganda, em 1947, em macacos Rhesus, e em seres humanos em 1952, no Uganda e na Tanzânia, o zika tem sido pouco estudado porque os sintomas da doença são inexistentes ou ligeiros.

A comunidade científica despertou para o problema desde que o vírus, que produziu a atual epidemia na América do Sul, foi associado a casos de microcefalia, doença em que os bebés nascem com o crânio anormalmente pequeno e défice intelectual, e a casos de Síndroma Guillain-Barré, uma doença neurológica grave. O Brasil vive atualmente um surto de Zika que já registou mais de um milhão e meio de casos.

Na quarta-feira passada, o Brasil confirmou 907 casos de microcefalia e 198 de bebés que morreram devido a este problema congénito desde o início do surto. As autoridades estão ainda a investigar se a malformação afeta outros 4.293 bebés com sintomas parecidos.