Perante o bloqueio político que resultou das eleições legislativas de 20 de dezembro, a política espanhola passou a reger-se por prazos. Agora, além dos prazos e dos bloqueios vividos na política nacional, é o PSOE que enfrenta um calendário que pode ser problemático para Pedro Sánchez caso se confirmem as eleições primárias de 8 de maio e o congresso nos dias 21 e 22 do mesmo mês.

No plano nacional, 0 dia 3 de maio ficou oficialmente determinado como o prazo final para os partidos chegarem a acordo quanto a uma solução governativa, depois de a proposta do PSOE e do Ciudadanos ter sido chumbada no início de março. Se os partidos voltarem a não chegar a acordo a 3 de maio, haverá novas eleições a 26 de junho.

Mas, pelo meio, há outras datas a ter em conta — sobretudo para o PSOE, o segundo partido mais votado nas eleições de dezembro, onde teve o seu pior resultado de sempre com apenas 22%. A continuação da liderança do secretário-geral, Pedro Sánchez, pode ter um obstáculo no caminho caso a presidente do governo regional da Andaluzia, Susana Díaz, decida avançar com uma candidatura antes do congresso do partido, agendado para 21 e 22 de maio. Para dar esse passo em direção à liderança do partido, Susana Díaz terá de apresentar a sua candidatura entre 11 e 14 de abril.

Se a presidente do governo regional da Andaluzia avançar, os 190 mil militantes do PSOE serão chamados a votar em eleições primárias a 8 de maio. Esta data foi acordada em janeiro, altura em que os barões dos socialistas espanhóis e Sánchez chegaram a acordo perante a crise interna que se seguiu ao 20 de dezembro.

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Ainda assim, a questão que mais importa não é tanto se Susana Díaz avança — ao El País, dirigentes destacados do partido dizem que, nesta fase, ela já “não tem outro remédio do que se apresentar” –, mas se a data do congresso será mantida para aqueles dias.

A confirmar-se a combinação desses dois fatores — um congresso disputado a pouco menos de um mês das cada vez mais prováveis eleições antecipadas de 26 de junho –, o PSOE arrisca-se a demonstrar de forma evidente as fissuras internas perante o eleitorado, ao mesmo tempo que prepara a campanha para chegar ao Governo. Ao El País, um presidente autonómico qualificou esta hipótese de “suicida”.

A decisão de adiar a data do congresso cabe a Pedro Sánchez, mas o secretário-geral já fez saber que só o fará com o acordo dos barões do partido. “Pedro [Sánchez] necessita de um pedido das federações. Qualquer decisão de Ferraz [nome da rua da sede do PSOE] nesse sentido poderá ser interpretada como uma manobra astuta para impedir que a liderança seja disputada”, disse uma fonte ao El Mundo. Para já, a imprensa espanhola divide-se quanto ao desfecho deste novo impasse da política espanhola.

Por um lado, o El País escreve que Sánchez vai consultar os líderes regionais do partido “nos próximos dias” e refere que “a maioria destes dirigentes considera que seria um erro embarcar num congresso que todos preveem como conflituoso precisamente durante as negociações para tentar formar Governo” ou, “ainda pior, a meio de uma campanha eleitoral”.

Por outro, o El Mundo aponta que Sánchez estará disposto a manter o calendário como ele está, referindo que “colaboradores de Pedro Sánchez fizeram saber a alguns dirigentes que o secretário-geral não é partidário de atrasar o congresso”. Isto porque, escreve aquele diário, Sánchez “acredita que vai ganhar as primárias entre os militantes e a presidente andaluza continuará a fazer bluff”.