A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou uma média de 63 crimes por dia em 2015, segundo dados divulgados na segunda-feira que revelam um total de 23 326 casos, um número que subiu 13% nos últimos dois anos.

Neste período também cresceu o número de vítimas (10,1%), passando de 8 733 em 2013, para 8 889 no ano seguinte e para 9 612 no ano passado, assim como os processos de apoio, que subiram de 11.800 em 2013 para 12 837 em 2015 (8,8%).

Em declarações à agência Lusa, o presidente da APAV, João Lázaro, afirmou que estes dados “mais do que transparecerem um aumento da criminalidade”, significam que “as pessoas estão mais sensibilizadas para pedir ajuda e para tentar ultrapassar as consequências negativas de terem sido vítimas de crime e procurarem saber quais são os seus direitos e como exercê-los”.

João Lázaro adiantou ainda que esta tendência de aumento do número de pessoas atendidas e apoiadas pela APAV contraria “uma tendência anterior, de há três, quatro anos” provocada pela crise, que fez com que “muitas vítimas de crime não procurassem ajuda e permanecessem no silêncio”.

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Segundo o relatório anual de estatística da APAV, a que a agência Lusa teve acesso, 80% dos casos (18 679) dizem respeito a crimes de violência doméstica.

Entre estes crimes, a APAV realça os maus-tratos físicos (7 507) e os maus-tratos psíquicos (5 167), que totalizam mais de 50% dos registos.

Das vítimas que recorreram aos serviços da associação em 2015, 82,2% eram mulheres, com idades entre os 25 e os 54 anos (39,5%).

Segundo o relatório, 30% eram casadas e viviam numa família nuclear com filhos (37,7%). A maioria vivia em Lisboa (20,4%), no Porto (12,1%) e em Faro (9,5%).

O grau de ensino das vítimas situa-se entre o ensino básico, secundário e superior (16,6%), sendo que 27,8% trabalhavam.

A APAV constatou que em 58,4% dos casos os agressores eram companheiros, ex-companheiros, cônjuges, ex-cônjuges, namorados e ex-namorados.

Em 23,8% dos casos, os agressores foram familiares (avós, filhos, netos, pais, irmãos).

Sobre o perfil do agressor, a APAV refere que 81,3% eram homens, com idades entre os 35 e os 54 anos (25,5%), 31,9% eram casados e trabalhavam (29,5%).

Houve ainda 388 casos em que as vítimas eram homens, com uma média de idade de 49,6 anos, a maioria casados. 54,2% estavam empregados, 20,8% reformados e 18,7% desempregados.

Quase metade (48,7%) tinha o ensino superior e 18,7% estavam desempregados.

Em metade dos casos, a agressora foi a mulher, enquanto em 20,4% das situações foi a companheira e em 12,1% a ex-companheira.

A APAV registou ainda 131 casos de agressões em relacionamentos entre pessoas do mesmo sendo.

A vitimação mais registada pela APAV foi de “tipo continuado”, assinalada em 74,7% dos casos. Em 16,3% das situações duravam, em média, entre os dois e os 6 anos.

Os locais do crime mais referenciados foram a residên­cia comum (5 976), a residência da vítima (1 590) e a via pública (1 105).

Fora do âmbito dos crimes contra as pessoas, o relatório realça os crimes patrimoniais, nomeadamente o crime de dano, com 229 registos (15%).

Destaca também as “outras formas de violência”, que incluem o bullying e o stalking (assédio persistente) e representaram mais de 500 queixas (2,5% do total das denúncias).