Carlos Tavares, o português presidente-executivo da PSA Peugeot-Citröen, ganhou mais de cinco milhões de euros em 2015 – o dobro do vencimento em 2014. Com a divulgação desta informação, estalou a polémica – sobretudo tratando-se de uma empresa que foi resgatada pelo Estado (que continua a ser acionista) e onde tem havido reduções de pessoal e congelamentos salariais. O ministro das Finanças já veio criticar: o salário de Carlos Tavares é “prejudicial” para a sociedade francesa.

O resgate público foi há apenas dois anos, quando a PSA estava à beira do abismo. Desde essa altura, a reviravolta tem sido impressionante — ficando a dever-se à recuperação do mercado automóvel europeu, ao controlo de custos e, de um modo geral, à reestruturação estratégica da empresa cujo principal rosto é o português Carlos Tavares – que era o número 2 da Renault-Nissan e, em 2013, passou a ser o número 1 da rival Peugeot-Citröen.

No ano passado, fechou o ano de 2015 com lucros (antes de impostos) de 899 milhões de euros, invertendo por completo o prejuízo de 706 milhões do ano anterior. Esta inversão dos resultados ajuda a perceber porque é que a remuneração de Carlos Tavares duplicou – trata-se de uma remuneração variável e indexada a objetivos.

“Recompensar o sucesso” ou falta de “decência”?

O Governo francês já comentou, perante o avolumar da controvérsia.

Pedimos aos nossos representantes [no conselho de administração] para votar contra [o pagamento a Carlos Tavares]… Estamos num momento em que o esforço é necessário e tem de ser partilhado por todos”.

Michel Sapin, ministro das Finanças de França, não fugiu às questões sobre uma remuneração tão elevada numa empresa que ainda há dois anos foi resgatada pelo Estado – e onde o Estado mantém uma participação de 14% no capital. Para o responsável, um ordenado desta natureza é algo “prejudicial” para a sociedade francesa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta é a visão do Governo sobre uma polémica que já estava a colocar em conflito os sindicatos e as associações de patrões.

Citado pelo Financial Times, o líder do sindicato CFDT afirmou que “este tipo de pacote salarial é mau para a coesão social”. Laurent Berger pediu “decência” à Peugeot-Citröen – empresa onde continua ativo o congelamento salarial criado em 2013.

Já do lado dos patrões, a opinião é contrária. Para estes, a remuneração “é uma recompensa pelo sucesso” obtido por Carlos Tavares à frente da empresa. Pierre Gattaz, dirigente da associação patronal Medef, lembrou que quando Tavares foi contratado “a empresa estava em graves dificuldades, estava nas lonas — em apenas 18 meses ele conseguiu endireitar uma empresa de bandeira da indústria francesa”.