O senador brasileiro José Serra declarou, em Lisboa, acreditar que a Presidente Dilma Rousseff não irá terminar o seu segundo mandato e defendeu também que seja pensada uma reforma no regime político, nomeadamente para o parlamentarismo.

“Nunca acreditei que a Presidente Dilma (Rousseff) terminasse o seu segundo mandato”, disse durante um seminário sobre Direito o ex-ministro da Saúde e ex-governador de São Paulo.

José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, oposição) indicou que a Presidente recebeu uma herança muito pesada do Governo de Lula da Silva, que acusou de provocar com a sua política económica a desindustrialização do país, ficando muito focada no consumo dos brasileiros, entre outros problemas na economia.

O senador avaliou também que o crescimento económico do Brasil, de uma forma geral, “tem sido medíocre”, pois entre 1950 e 1980 o PIB brasileiro aumentou três vezes e entre 1985 e 2015, o seu crescimento foi só em 40 por cento, ou seja 1,4 vezes.

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“Isso tem sido uma dor de cabeça infinita para o país”, avaliou, referindo ainda que a economia brasileira realmente passa por uma grande crise, que se reflete na sociedade como um todo.

Para Serra, “o segundo mandato de Dilma começou sem nenhum crédito de confiança, seja pelos problemas económicos que herdou do Governo de Lula da Silva, seja pelo facto de ter feito o oposto que pregou na sua campanha eleitoral”.

Considerou que esse “período de agonia” que se vive no Brasil começou a mostrar-se em 2013, com as primeiras manifestações, que não eram politizadas e buscavam melhorias, como nos transportes públicos.

“As manifestações de 2015 e 2016 estão mais ligadas aos desenvolvimentos dos escândalos de corrupção no Brasil”, avaliou.

“O ‘impeachment’ de Dilma Rousseff, se acontecer, não muda a classe política, mas provoca um abalo grande”, referiu, acrescentando que a destituição de Dilma Rousseff não resolve a crise por si.

O senador José Serra disse que em tempos de crise é preciso começar a construir um novo caminho e, para o Brasil, a médio e longo prazo, é necessário pensar outros caminhos para a economia outras áreas, como a política.

Defendeu abertamente, como também o seu partido apoia, a mudança do sistema político com a introdução do parlamentarismo, aventando ainda a possibilidade de um referendo para essa mudança.

O senador afastou ainda qualquer ideia de golpe militar, pois no Brasil de hoje há “uma ausência do fator militar” na política.

José Serra está em Lisboa para participar no IV Seminário Luso-Brasileiro de Direito, promovido pelo Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (EDB/IDP – do qual Gilmar Mendes é cofundador) e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), que se realizou entre terça-feira e hoje.