Pelo menos 24 moçambicanos refugiaram-se, há dias, no Zimbabué, alegando terem fugido de confrontos no seu país, disse à Lusa um representante das Nações Unidas.

Em declarações via telefone, Robert Tibagwa, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no Zimbabué, referiu ter recebido indicações da chegada de “duas famílias”, com 20 e 21 elementos respetivamente.

Dessas “41 pessoas” que chegaram, “ao mesmo tempo”, ao distrito de Mutasa, na região de Manicaland, na fronteira com Moçambique, “17 são zimbabueanos” que vivem em Moçambique e “24 são moçambicanos”, concretizou.

São esses 24 moçambicanos que o ACNUR considera “refugiados”, porque declararam ter fugido de “tiroteios nas suas aldeias em Moçambique, entre as forças governamentais e a Renamo”, principal partido da oposição, que exige governar em seis províncias do país, onde reivindica ter vencido as últimas eleições. “Não sabemos quando atravessaram a fronteira, mas recebemos informação na terça-feira”, referiu Robert Tibagwa.

Esses 24 moçambicanos foram acolhidos por “familiares” do mesmo grupo étnico, que vivem do outro lado da fronteira, e pediram “roupas e alguma comida”, que “o governo local já providenciou”, adiantou.

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Robert Tibagwa reconhece estar “preocupado”, até porque já chegaram “11 mil moçambicanos” ao vizinho Malaui. “Vamos começar a preparar um plano de contingência, mas não temos indicações de mais pessoas a chegarem ao Zimbabué a partir de Moçambique”, disse. Porém, admite, “pode acontecer” que mais moçambicanos se venham a refugiar no Zimbabué.

Na quinta-feira, o representante do ACNUR deu instruções à equipa para “avaliar a situação no distrito de Mutasa”.

O clima de tensão entre o partido no poder e a oposição tem-se agravado em Moçambique, com confrontos entre as forças de defesa e segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e acusações mútuas de ataques armados, emboscadas, raptos e assassínios.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para o diálogo com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, mas este tem condicionado as negociações a uma mediação internacional da crise e à exigência de governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.