A Associação dos Emigrantes Lesados quer negociar com o Governo uma solução para os clientes que investiram em produtos do BES e tem já manifestações marcadas para Paris, que admitem que podem ser menos pacíficas se não houver desenvolvimentos.

Este sábado, a Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) foi apresentada oficialmente numa sessão no edifício da Câmara Municipal de Gentilly, na região de Paris, na presença de cerca de 300 pessoas, segundo a vice-presidente, Helena Batista.

Segundo Helena Batista, o encontro serviu para discutir os problemas dos emigrantes que investiram em produtos financeiros do Banco Espírito Santo (BES) e cujo investimento foi dado como praticamente perdido aquando da queda do banco, em 2014, e as ações futuras com vista a uma solução para esse problema.

“Estamos abertos a negociações por parte do Governo (…). Apelamos ao Governo, ao Presidente da República, ao Banco de Portugal para que revejam a nossa situação”, afirmou à Lusa Helena Batista, por telefone, que considera que “este caso tem muito de político, se não é totalmente político”.

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Os emigrantes que se consideram lesados pelo BES garantem que foram “enganados” pelo banco, uma vez que o que queriam era pôr as poupanças em depósitos a prazo, com capital e juros garantidos, e que foram os gestores do BES que as aplicaram em produtos financeiros complexos, como séries de ações preferenciais, sem o seu conhecimento.

“Nós enviamos as economias para um banco que era como uma embaixada de Portugal no estrangeiro e fomos burlados”, disse Helena Batista.

A AMELP, criada oficialmente há dois meses, agrega os emigrantes que não aceitaram a solução comercial proposta pelo Novo Banco em julho, mas também, segundo a dirigente, cerca de 400 pessoas que subscreveram os produtos EG Premium e Euro Aforro10 e a quem o banco não ofereceu qualquer solução.

A associação estima que sejam quase 2.000 os clientes que não têm acesso às suas poupanças, no total de cerca de 150 milhões de euros.

Na reunião deste sábado, os associados da AMELP decidiram ainda realizar mais duas manifestações em Paris, uma a 14 de maio e outra a 10 de junho, coincidindo com as comemorações do Dia de Portugal na capital francesa, nas quais estará presente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“A manifestação tanto pode ser pacífica, se as coisas tiverem entretanto algum desenvolvimento, como menos pacífica”, explicou Helena Batista, referindo o elevado descontentamento dos emigrantes.

No verão do ano passado, o Novo Banco propôs uma solução comercial a estes clientes que os levará a recuperarem de forma faseada parte significativa do investimento.

Então, este movimento considerou que essa solução não se adequava ao perfil desses clientes, uma vez que implicava a subscrição de obrigações de longa duração do Novo Banco e em que os depósitos a prazo estarão condicionados ao valor dessas obrigações.

A AMELP tem acusado as autoridades portuguesas de esquecerem os lesados do BES residentes no estrangeiro, referindo que “o caso dos lesados do papel comercial está a ser tratado”, com intervenção do próprio Governo, ao contrário dos “verdadeiros lesados do BES, os pobres emigrantes que sofreram vidas inteiras para amealhar poupanças”.

Na semana passada, Governo, Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e ‘banco mau’ BES assinaram um memorando com a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial do Grupo Espírito Santo para encontrar uma solução até início de maio que permita “minorar as perdas” dos clientes.