A expressão faca de chef indicia um objeto com lâmina imponente e gume preciso, capaz de desempenhar a maioria das técnicas culinárias com eficácia e rapidez. Já a estética não costuma — embora haja belas e honrosas exceções — estar no topo das preocupações de quem as desenha. Assim, podia pensar-se que as Rocks Knives, sendo facas e de um chef, Nuno Mendes, cairiam no lote acima descrito. Pelo contrário. Até porque não são propriamente facas de chef, mas sim facas do chef. E não só. Também são facas do editor.

O editor é Paulo Amado, diretor da Edições da Gosto, responsável por publicações como a Inter Magazine ou a Comer e organizador de inúmeros eventos na área da gastronomia. Os dois conhecem-se há mais de dez anos. “Na altura organizava uns pequenos-almoços com chefs e um dia convidei-o, pouco antes de ele ir para o El Bulli”, recorda Paulo. Mantiveram o contacto, desenvolveram a amizade e Nuno até acabou por se tornar presidente do júri do Chefe Cozinheiro do Ano, o concurso organizado pela Edições do Gosto há mais de duas décadas.

“Na verdade, estas são as facas do organizador e do júri do Chefe Cozinheiro do Ano”, brinca Paulo, que não se lembra, ao certo, de quando é que a ideia surgiu pela primeira vez. “Foi surgindo”, diz, “mais por gosto do que por necessidade.” Lembra-se, isso sim, que culminou nuns “esboços feitos no meu carro, às tantas da manhã.”

Mas a hora ou o sítio são bem menos relevantes que o seu propósito. “Quisemos trazer o canivete português de volta para as mesas”, explicou Nuno Mendes, na recente apresentação ao público das Rocks Knives, ao mesmo tempo que se revelou desejoso, cada vez mais, de poder “mostrar o que é nosso” em Londres. Em sua justiça — e a par de uma carreira assinalável — tem feito muito por isso: ganhou uma estrela Michelin no Viajante, que quer reabrir, e chefia atualmente o fenómeno Chiltern Firehouse, além de ser responsável pelo muito apreciado Taberna do Mercado — onde estas facas já estão a ser utilizadas — e por uma coluna mensal de receitas no The Guardian.

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O chef Nuno Mendes, a respetiva barba, e uma das suas facas.
(foto: © Divulgação)

Para passar das ideias aos cortes, a dupla contou com a colaboração do cuteleiro Carlos Norte, oriundo de uma família de mestres desse ofício e que, como o próprio explicou também na apresentação, andava com ideias de “recuperar aquele tipo de cutelaria que deixou de se fazer com a industrialização.” Pediram-lhe um protótipo, ele assentiu. Mas a coisa correu bem demais: “Gostei tanto dessa primeira faca que tive de ficar com ela para mim”, lembrou.

Mas se a primeira faca ficou em casa, as que se lhe seguiram começaram a definir a imagem das Rocks Knives, um nome que, em conjunto com a assinatura Since the Beginning (“desde o início”), faz recuar no tempo, até à época em que se cortava com pedras afiadas, os sílices.

Paulo Amado divide o processo de criação das facas em três fases. Na primeira, copiaram algumas clássicas navalhas portuguesas antigas, como a Caneças, a Bandido ou a Capa Grilos, limitando-se a refinar o desenho e a substituir materiais, de forma a transformá-las em facas de mesa. E usa uma comparação gastronómica: “Isto é como o jovem cozinheiro que começa por fazer a feijoada da mãe, com a mesma receita. Só depois é que vai mudar isto ou aquilo e só daí a uns anos é que vai estar a fazer um crocante de feijoada desestruturado.”

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Parecem navalhas mas são facas de mesa. À antiga portuguesa.
(foto: © Divulgação)

A segunda fase foi a da adaptação. “Isto são mentes criativas que não se satisfazem com a mera cópia”, justifica Paulo. Assim, com a ajuda de um arquiteto desenhador, Carlos Fonseca, e partindo das antigas “navalhas de função”, como lhes chama, nasceram novos perfis e modelos com a marca Rocks Knives.

Envolta nalgum mistério está, por seu turno, a terceira fase do projeto, que corresponde à criação de um protótipo pensado de raiz, do qual só se pode revelar o nome: First Man. Uma coisa é certa, os criadores garantem que vai cortar — ou não fosse uma faca — com “todas as conceções a nível mundial”.

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Cada faca tem direito a uma bainha deste género.
(foto: © Divulgação)

Em Portugal, as facas estão, para já, ao serviço de apenas um restaurante: a steakhouse RIB Beef & Wine, do hotel Pestana Vintage Porto, de que o Observador falou neste artigo. E são tratadas como uma preciosidade. “Eles contam-nas no início do turno e contam-nas novamente quando este muda”, garante Paulo Amado. A intenção dos criadores será que outros restaurantes as adotem, em Portugal ou no estrangeiro, aproveitando a enorme projeção de Nuno Mendes. Depois das facas, vão avisando, outros projetos virão. Com a mesma intenção, repetida pelo chef: “mostrar o que é nosso.” Assim seja.

Nome: Rocks Knives
Data: 2016
Pontos de Venda: Para já, as facas podem ser encomendadas através do site da marca. Também estarão à venda na Taberna do Mercado (um dos restaurantes londrinos de Nuno Mendes) e, num futuro próximo, nas lojas A Vida Portuguesa.
Preços: Em média, cada faca custa 40€

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