Era só somar A+B. O Sporting vinha de uma goleada no Restelo — e, provavelmente, da melhor exibição da época. Já a semana do Marítimo não foi propriamente a melhor. Atípicos. É o mínimo que se pode dizer dos dias que antecederam a viagem para Alvalade. Rúben Ferreira e Lynneeker, dois habituais titulares nos insulares, não foram esta noite. E não foram porque no treino de quinta-feira trocaram de desporto, o futebol pelo pugilismo. Mas não são eles os únicos sob alçada disciplinar no Marítimo. Também Edgar Costa e Éber Bessa (que ao contrário de Rúben e Lynneeker, até foram titulares contra o Sporting) o estão, depois de se terem desentendido no mesmo treino — sem violência física, mas com berraria à mistura. Acabou aqui? Não. O guarda-redes Haghighi, que se desentendeu com o treinador de guarda-redes no início da semana, também não tem treinado com a equipa. Mas o titular é Salin — e não é pelo francês que o gato vai às filhós. Agora, lá que o ambiente está de cortar à faca, está. E o Sporting era favorito.

O problema é que no Restelo nem tudo foi bom. Adrien viu o cartão amarelo e viu também o jogo com o Marítimo da bancada. E quando não há Adrien, por tanto que haja Slimani a marcar, por tanto que haja João Mário a assistir, falta o faz-tudo, o capitão, aquele que ataca tão bem quanto defende, que corta linhas, que abre outras, que está sempre ligado à corrente o jogo todo, que berra com os restantes quando é preciso berrar, que os incentiva quando estão cabisbaixos. Faltou Adrien e o Sporting foi molengão. Sobretudo na primeira parte.

O primeiro remate do jogo só surgiu ao fim de 10′. O Sporting foi circulando, circulando, a bola atravessou a área toda, de Ruiz para Teo, de Teo para João Mário, e acabou nos pés de Schelotto, à direita. O ítalo-argentino cruzou rasteiro, Slimani estava ao segundo poste para encostar, com a baliza escancarada, mas Salin chegou primeiro e ainda tocou de raspão na bola. Pouco depois, aos 15′, mais uma oportunidade, novamente do Sporting. O forte dele é a canhota, não são os cabeceamentos. Teo, encostado à linha de fundo, cruzou para a área, mesmo para o centro, Bryan Ruiz antecipou-se ao central Maurício Antônio e cabeceou. Se desviou a bola de Salin? Desviou. E isso é bom. Mas também a desviou da baliza. Errou a direção por pouco mais de um palmo. E isso é mau.

O Marítimo só respondia em contra-ataque. Chegava lá à frente, à defesa do Sporting, mas faltava sempre o remate final. Aos 18′ rematou mesmo. É de Donald Djoussé a tentativa, o avançado camaronês que tem a missão (complicada) de substituir Marega. Djoussé viu-se à entrada da área, os colegas iam-se desmarcando entre os defesas do Sporting, mas ele não foi de modas e rematou logo dali. O remate saiu por cima da barra, com Patrício a controlar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Calma, o relvado não tem culpa! Em semana de bofetada para aqui, bofetada para acolá, quem acabou por levar uns salutares tabefes foi o chão. E levou-os de Slimani. Porquê? Ruiz cruzou desde a esquerda para o segundo poste, o argelino estava nas costas do central Dirceu e a bola caiu-lhe redondinha no peito. O pior veio depois. É que Slimani atrapalhou-se depois de a dominar e acabou por perdê-la para o central do Marítimo. Não é hábito. O hábito é o argelino rematar naquela situação. Não rematou. E pagou o relvado a ira de Slimani.

O Marítimo — estranhamente, pois o Sporting tinha o controlo da bola — ameaçou. E logo a dobrar. Primeiro foi Éber Bessa, aos 37′. Descaído sobre a esquerda, Éber tinha Schelotto e Coates em cima dele. Um problema? Não para o brasileiro. Fintou os dois (com sorte à mistura, sim) e, para não abusar mais da boaventura, rematou cruzado já dentro da área. Valeu a atenção de Patrício, que encaixou o remate do brasileiro. Logo depois, aos 41′, João Diogo, que é defesa direito, passou por Ruiz, primeiro, e Bruno César, depois, como se fosse um autêntico Messi — é que até para uma “cabrita” ao segundo deu. Mal se viu na área, João Diogo rematou, cruzado, forte e rente ao poste direito. Estava lá o guarda-redes do Sporting e, todo no chão, defendeu para canto.

Ameaçava o Marítimo, marcou o Sporting. É de Teo o golo. O colombiano quer mesmo ir à Copa América. E a marcar como está a marcar nos últimos jogos, que remédio tem Pekerman se não levá-lo. Aos 42′, descaído sobre a esquerda, avançou com pezinhos de lã até à entrada da área, rematando mal viu uma nesga de espaço livre. O remate, forte e colocado, ainda desviou em João Diogo e acabou por trair Salin, com um chapéu. Mas lá que foi um golaço, lá isso foi. Com ajuda ou não. É o 7.º tiro certeiro de Teo na Primeira Liga. A primeira parte acabaria pouco depois.

No recomeçou continuou a faltar o “ruço”, camisola n.º 23, e o futebol do Sporting não fluía como no Restelo. Fluía, sim, mas lentamente, quase sempre por Teo ou João Mário. Não houve, por isso, muito o que contar até aos 53′. E porquê falar deste minuto? Porque é o do golo de William Carvalho. A jogada começou nos pés de João Mário, que entrou na área, desmarcou Teo à sua esquerda, recebeu de volta a bola do colombiano e rematou. Estava lá Salin e defendeu. Então, mas onde entra William nesta história? Entra na recarga. Recuperou a bola defendida por Salin à entrada da área, desviou-a de João Diogo (que vinha “todo lampeiro” para o corte) e rematou cruzado e forte, sem hipótese de defesa para o francês. William Carvalho não marcava em Alvalade desde a vitória (1-0) contra o Belenenses, ainda na primeira volta da Liga. Foi o seu 3.º golo esta temporada.

O Marítimo, que tão boa conta deu de si a contra-atacar na primeira parte, recolheu-se à defesa na segunda. Demasiadamente à defesa. E o Sporting ia trocando a bola a seu bel-prazer. Aos 69′, tudo bem feito pelos da casa. Salin esteve ainda melhor. A jogada começa em Schelotto, que foge a Patrick na esquerda e cruza rasteiro para a área. Estava lá Teo no primeiro poste, recebeu o passe de costas para a baliza, rodopiou sobre Dirceu e assistiu Aquilani, que vinha embalado para o remate à entrada da área. Rematou mesmo o italiano, mas Salin defendeu por reflexo para longe, só com a luva direita.

Jogo que é jogo no Sporting, tem Slimani a molhar a sopa. E assim foi, aos 76′. 3-0 para o Sporting, sem precisar de acelerar muito. O trabalho é todo de João Mário, que recebeu a bola na área, fintou Patrick (Dirceu também foi na finta e caiu) e rematou. O remate tocou em Maurício e sobrou caprichosamente para Slimani, que com a baliza vazia só teve que encostar. O argelino fez o seu 23.º golo na Liga, talvez um dos mais fáceis da época.

Acabou aqui? Não. O Sporting não queria mais. O Marítimo idem. Mas os madeirenses lá marcaram. Como? Em velocidade, pois claro, e a contra-atacar. Foi o que mais deles se viu em Alvalade. Fransérgio disparou à direita, cruzou para a área — ou terá sido um remate? –, a bola ainda toca em Rúben Semedo, engana Patrício, e surge ao segundo poste para encostar Gevorg Ghazaryan.

Contas feitas, está tudo na mesma. O Benfica não escorregou em Coimbra, o Sporting venceu em casa. Faltam cinco jogos. Quem vai quebrar?