Enquanto está a ler isto, provavelmente está sentado. E o que é isso significa? Que está a perder anos de vida. Desde o banco do carro, à cadeira do escritório, à mesa durante o almoço, à esplanada para beber um café e depois ao sofá, em casa, estamos a passar cada vez mais tempo sentados. E este tipo de vida sedentária está a matar-nos a todos aos poucos. Mesmo os que fazem exercício físico depois do dia de trabalho. Esta é a conclusão de um estudo de um dos principais jornais de medicina, o Annals of Internal Medicine.

Luís Teixeira, fundador da Associação Nacional Spine Matters e médico ortopedista diz que ao fim de 20 minutos, a coluna já está a ser pressionada, tempo que não representa sequer um quarto daquele que passamos em frente a uma secretária. Desconforto, dormência, desalinhamento da coluna, lesões nas articulações e má circulação sanguínea são apenas algumas das consequências, a longo prazo, de períodos prolongados em posição sentada. Até porque esta, afinal de contas, não é natural para o corpo humano.

Sentar é o novo fumar

Explorando o tema mais a fundo, a questão que se coloca é apenas uma: fuma? Não? Mas o seu corpo vai reagir exatamente da mesma forma ao fim de um dia sentado. James Levine, director da Mayo Clinic disse em entrevista ao jornal Los Angeles Times que “estar sentado é mais perigoso que fumar, mata mais pessoas que o VIH e é mais arriscado que fazer paraquedismo. Estamos a sentar-nos até à morte“. É este o autor da frase que se tornou uma mantra da medicina: sentar é o novo fumar.

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Os resultados dos muitos estudos que, entretanto, foram feitos são unânimes: estar um dia inteiro sentado duplica o risco de diabetes, aumenta a probabilidade de doença cardíaca, está associado a vários cancros e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, é a quarta maior causa de morte em adultos em todo o mundo.

E sabe qual é a pior parte? Especialistas da Universidade de Leicester dizem que os riscos são basicamente os mesmos quer faça exercício físico ou não. Não estamos a dizer que fazer exercício é irrelevante para a saúde. Mas se passar o dia sentado, não é por passar uma hora no ginásio que vai reverter as oito horas anteriores à secretária. E estes dados são fruto de 18 estudos num total de 800 mil pessoas.

Quando ataca a doença do “estar sentado”

Não pense que ainda está longe. O jornal britânico Daily Mail explicou, numa notícia, que ao estarmos sentados, a nossa coluna simplesmente não se move, os joelhos e as ancas estão numa posição flexionada, os nossos músculos ficam fracos e o corpo acaba por começar a sofrer. E estarmos curvados ao computador aumenta ainda mais a compressão através dos discos da coluna vertebral, o que causa dor e rigidez. Imagine um clipe: pode dobrá-lo uma vez por dia durante um mês e ele ainda vai funcionar. Mas um dia, simplesmente vai partir-se por o ter dobrado tantas vezes. É exatamente isso que acontece com a nossa coluna. Um dia… E esse dia tanto pode chegar só aos 50 anos como aos 35.

Luís Teixeira reforça que “esta é uma situação em que já nem pensamos. Sabemos que chegamos ao escritório e que é altura de nos sentarmos. As dores vão aparecendo, com o passar do tempo, mas como também não são fortes, continuamos sem ter real consciência do que estamos a fazer à nossa coluna. O preço a pagar é altíssimo: estamos a falar de dores lombares fortes, hérnias e lesões que podem já não ser reversíveis”.

Dicas no dia-a-dia

Nesta notícia do Observador, demos algumas dicas para melhorar o trabalho sentado: ajustar o monitor à altura dos olhos, ter atenção à postura, fazer pausas para esticar as pernas e alongar os músculos… Mas Luís Teixeira reforça com outras dicas:

  • Aproveite os telefonemas e as reuniões internas para falar em pé, enquanto circula.
  • Não passe mais de uma hora sentado – levante-se, nem que seja para ir beber água, um café, petiscar qualquer coisa.
  • Mantenha a postura correta: costas bem encostadas e pés bem assentes no chão.
  • Já que vai passar tanto tempo na cadeira do seu escritório, exija uma cadeira decente. O assento deve ser firme e profundo o suficiente para suportar as coxas sem forçar o ângulo posterior dos joelhos, deve ter apoio para os antebraços e as bordas anteriores do assento devem ser arredondadas.
  • O encosto da cadeira é o mais importante pois vai fornecer estabilidade. Deve ser levemente inclinado para trás (os encostos retos tendem a fazer-nos escorregar para a frente). Se for preciso, use um apoio lombar para conseguir manter uma boa postura.