“Nas situações de afetos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que perceba que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos.”

As declarações ao Observador do subdiretor do Colégio Militar, tenente-coronel António Grilo, resultaram na demissão do chefe do Estado-Maior do Exército, general Carlos Jerónimo. Esta terça-feira, o general Garcia Leandro, ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército escreveu no DN uma carta aberta a Azeredo Lopes.

O ministério da Defesa considerou “absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei”, exigindo publicamente explicações ao Estado-Maior do Exército e o afastamento do subdirector do Colégio Militar. Na carta de Garcia Leandro, o ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército avisa o ministro da Defesa que “se voltar a repetir este procedimento com outros Chefes de Estado-Maior, é provável que saia o ministro em vez do Chefe de Estado-Maior em causa”.

Sobre a alegada discriminação no Colégio Militar em relação a alunos homossexuais, Garcia Leandro alerta que os alunos do Colégio Militar “não são militares, cadetes ou soldados, são apenas estudantes integrados numa instituição com dupla ligação” — ao Ministério da Educação na parte académica e ao Estado-Maior do Exército e Ministério da Defesa nas institucionais, desportivas e militares. E acrescenta: “Não existe qualquer discriminação”.

Garcia Leandro acusa Azeredo Lopes de se ter assustado “sem qualquer razão, com as declarações do Bloco de Esquerda” e de ter “pressionado” o chefe do Estado-Maior do Exército na comunicação social, o que levou à sua demissão. E garante que Carlos Jerónimo “saiu engrandecido de toda esta triste novela”.

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Mas não foi só o ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército a criticar o ministro. Também a Associação de Oficiais das Forças Armadas e o general Loureiro dos Santos o fizeram.

Na segunda-feira, o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas acusou o ministro da Defesa de “desconsiderar” as Forças Armadas. “A forma como abordou a questão desautorizou, desconsiderou as Forças Armadas, no seu todo, pela forma como lidou com toda esta situação e, em particular, a instituição Exército e o seu chefe de Estado Maior”, afirmou Pereira Carcel.

Para o general Loureiro dos Santos, o ministro da Defesa foi “pouco hábil” ao lidar com a polémica. Para Loureiro dos Santos estes problemas devem ser tratados “sempre com uma certa atenção” e, desta feita, falhou no diálogo entre o ministro da Defesa e os militares. Loureiro dos Santos acrescenta ainda que “o chefe de Estado Maior não pode sentir-se desautorizado” e “deve ter permanentemente o enquadramento e o apoio do chefe político”.

Politicamente, o PSD vai requerer esclarecimentos do ministro da Defesa no parlamento sobre a demissão do chefe do Estado-Maior do Exército, Carlos Jerónimo, considerando que declarações públicas de Azeredo Lopes podem ter precipitado a decisão do general.

O coordenador dos deputados do PSD na comissão parlamentar de Defesa Nacional, Pedro Roque, disse que pretende esclarecer as circunstâncias que motivaram o pedido de demissão do general Carlos Jerónimo, afirmando que ele surgiu na sequência de “declarações públicas imprudentes” do ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, que “terão de alguma maneira precipitado” o pedido de demissão.

Segundo o deputado Pedro Roque, as declarações do ministro Azeredo Lopes estão a colocar em causa “a coesão interna do ramo”.

Entretanto, o ministro da Defesa Nacional já iniciou os procedimentos visando a substituição do general Carlos Jerónimo.