Vasco Lourenço prometeu para esta quarta-feira uma tomada de posição da Associação 25 de Abril sobre a demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME). Em declarações ao jornal i, o militar de Abril defende que seja bloqueado o processo de substituição de Carlos Jerónimo, que se demitiu do cargo na semana passada na sequência de uma reportagem do Observador que revelou o tabu da homossexualidade dentro do Colégio Militar. É mais uma voz a fazer subir a pressão sobre o ministro da Defesa, Azeredo Lopes.

“O desejável é que os generais que venham a ser convidados a seguir digam que não”, diz Vasco Lourenço ao jornal. E avisa que a Associação 25 de abril tomará, esta quarta-feira, uma posição onde irá “felicitar a atitude do general Carlos Jerónimo, criticar a atitude do ministro, e não só, e manifestar preocupação”. Já na terça-feira, num artigo publicado no site do Expresso, o general do Exército Ricardo Durão fez uma apelo no mesmo sentido: “Felicito a decisão tomada pelo chefe do Estado-Maior, como felicitarei os generais que recusem a nomeação para o substituir, enquanto for mantido em funções o atual ministro. É simples, é só mais uma substituição que contribuirá para a melhoria do elenco governamental”. O general Loureiro dos Santos fala até na necessidade de “empenho” do primeiro-ministro, em declarações ao Correio da Manhã, admitindo que o “ministro [da Defesa] está algo fragilizado”. Também Garcia Leandro, ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército, deixou, em carta publicada no DN, um aviso ao ministro da Defesa: “se voltar a repetir este procedimento com outros Chefes de Estado-Maior, é provável que saia o ministro em vez do Chefe de Estado-Maior em causa”.

Em causa está a demissão do CEME, logo aceite pelo Presidente da República, na sequência da polémica do Colégio Militar. Vários militares têm manifestado incómodo com a tomada de posição pública do ministro sobre as declarações do subdiretor da instituição, na reportagem do Observador. Num documento interno do Ministério da Defesa, citado pelo Diário de Notícias, está registado um pedido de Azeredo Lopes (depois de um pedido do mesmo jornal para que reagisse às declarações do subdiretor do Colégio Militar) para que o Chefe do Estado-Maior do Exército se pronunciasse publicamente sobre o caso, antes de o ministro o fazer.

A orientação não foi seguida e acabou por ser o ministro da Defesa a fazê-lo, declarando ser “absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei”. Depois disto, o CEME demitiu-se e o ministro tem estado à procura de substituto.

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No documento interno já referido, e que descreve a sequência de episódios suscitados desde que surgiu este caso, está expresso que “dada a natureza do tema em questão, não poderá deixar de lhes responder, sugerindo que o próprio Exército deveria tomar uma posição pública sobre o assunto no mais breve espaço de tempo, a qual poderia mesmo antecipar a resposta do gabinete do ministro”.

Na reportagem do Observador, o subdiretor do Colégio Militar, o tenente-coronel António Grilo, assumiu que existe um tabu em relação a alunos homossexuais. “Nas situações de afetos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que percebam que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos”.

Ontem, ao Observador, o Ministério da Defesa referiu não ter “conhecimento que tenha sido desencadeado algum procedimento relativamente ao Colégio Militar” na sequência das declarações do subdiretor da instituição.