O ministro da Defesa vai ao Parlamento no próximo dia 26, para uma audição, onde será questionado pelos deputados sobre a demissão do general Carlos Jerónimo da chefia do Exército, que está a provocar “ondas de choque” e “mal-estar” no ramo, segundo o PSD. Esta quarta-feira, também no Parlamento, o Bloco de Esquerda saiu em defesa do ministro Azeredo Lopes.

A audição do dia 26, que já estava prevista, terá uma grelha própria para discutir este tema, decidiu esta quarta-feira a comissão de Defesa Nacional, por unanimidade, após a discussão de um requerimento do PSD para chamar Azeredo Lopes ao parlamento. Por outro lado, PS, BE e PCP votaram contra a pretensão do social-democrata para ouvir o general Carlos Jerónimo, que foi exonerado do cargo a seu pedido na semana passada e, não estando em funções, não está obrigado a comparecer a audições parlamentares e poderá ou não aceitar convites que lhe sejam dirigidos pela comissão.

Foi o PSD que propôs a audição do ministro da Defesa sobre a demissão na chefia do Exército, depois da reportagem do Observador sobre o Colégio Militar que revelou sinais discriminação sexual na instituição. O deputado social-democrata Pedro Roque defendeu que a situação está a provocar “ondas de choque” no Exército e a pôr em causa a “coesão do ramo”. “Estão por explicar as razões da quebra de confiança”, afirmou Pedro Roque, defendendo que “o general Carlos Jerónimo é um homem de caráter e responsável” e que, para se ter demitido, “alguma coisa não correu bem”.

Já Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, considerou “aceitável e defensável” a declaração do ministro sobre esta polémica, já que “a Constituição condena a discriminação de cidadãos em função da orientação sexual”. Se o texto fundamental diz isso, “não é esperado nada menos do que a defesa de um membro do Governo”.

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Nos últimos dias, os militares têm pressionado o ministro da Defesa, por ter feito declarações públicas sobre a polémica no Colégio Militar, considerando-as ingerência. O Governo negou essa intenção. mas o deputado Pedro Roque aproveita a onda de contestação para dizer que o ministro deveria ter conduzido a situação que decorreu de declarações públicas do subdiretor do Colégio Militar “de forma mais reservada”.

Pelo PS, o deputado Miguel Medeiros recusou que a comissão se transforme num “tribunal da opinião pública” mas mostrou-se favorável a que Azeredo Lopes preste esclarecimentos no próximo dia 26 uma vez que já estava prevista uma audição para aquela data. O socialista defendeu a atuação do ministro da Defesa neste caso, afirmando que “o que se sabe é que emitiu uma nota muito simples a solicitar à chefia militar que esclarecesse a situação” já que, considerou, das declarações do subdiretor do Colégio Militar “transparecia alguma resignação” face a situações de discriminação em função da orientação sexual.

Para o deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro, “é fulcral” ouvir o ministro da Defesa numa altura em que “há matérias relativas ao relacionamento entre ministro e a instituição militar que neste momento são motivo de preocupação do ponto de vista político”.

De visita a Estrasburgo, o Presidente da República (que é o comandante Supremo das Forças Armadas) foi questionado pelos jornalistas mas manteve o silêncio sobre toda esta polémica.

“Não comento fora do território físico português aquilo que se passa em Portugal e, em geral, o Presidente da Republica e comandante supremo das Forças Armadas não comenta nada sobre as Forças Armadas”.

Mas “mesmo que estivesse em Portugal, não comentaria nada das Forças Armadas senão diretamente às Forças Armadas”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. Questionado sobre se iria fazê-lo quando chegasse a Lisboa, Marcelo disse apenas “veremos”.

O chefe de Estado aceitou a demissão do general Carlos Jerónimo mal ela foi apresentada.

Este texto foi atualizado às 15h25 com as declarações do Presidente da República.