“Se Dilma Rousseff sobreviver ao processo de destituição, apesar da expetativa em contrário, o risco de uma crise orçamental e da balança de pagamentos pode aumentar”, escrevem os peritos da unidade de análise da revista económica britânica The Economist.

Numa nota enviada esta semana aos investidores a que a Lusa teve acesso, os analistas comparam a situação atual com a tentativa de Fernando Collor de Melo, em 1992, de sobreviver a um escândalo político, mas consideram que “desta vez a situação é muito mais complexa”.

“Mesmo com os resultados dececionantes sobre o défice orçamental primário em fevereiro, que registou um valor de 2,1% numa base anual, o Governo anunciou recentemente um conjunto de medidas que, se aplicadas, vão prejudicar ainda mais as finanças públicas brasileiras”, dizem os analistas.

Como exemplos apontam o novo enquadramento para as finanças públicas que pode ter um impacto negativo de 0,1% no PIB nos próximos três anos e um abrandamento dos objetivos orçamentais do setor público para acomodar despesa adicional que inclui assistência aos estados em dificuldades financeiras.

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Além da “intenção de aumentar a disponibilidade de crédito para o setor público através de taxas de juro mais baixas praticadas pelo Banco de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES)”, a EIU lembra também a ideia de “baixar o preço interno do petróleo e dos combustíveis, o que representaria um golpe adicional para as já problemáticas contas da Petrobras”.

A unidade de análise da Economist considera também que as medidas sociais que Dilma Rousseff tem em preparação enquanto combate o processo de destituição “são uma última aposta para recuperar alguma popularidade antes da votação parlamentar”.

Para os analistas da EIU, “quanto mais tempo durar o processo de destituição, pior será o impacto no cenário orçamental e na perspetiva económica do Brasil”, e a análise piora caso Dilma Rousseff consiga manter-se no poder.

“Se a combinação dos esforços políticos de Dilma Rousseff e Lula da Silva tiverem sucesso em adiar ou evitar o processo de destituição, a probabilidade de uma crise orçamental e externa em toda a plenitude vai aumentar”, sentenciam os analistas.

O cenário mais provável, concluem, não é, ainda assim, este: “o nosso cenário base é que Dilma Rousseff será destituída, com o vice-Presidente interino Michel Temer a tomar conta do Governo e a tomar medidas para potenciar a moldura económica do Brasil”.