Não foi preciso esperar pela artilharia do adversário, porque António Costa esteve debaixo de “fogo amigo” logo no início do debate quinzenal desta sexta-feira: o Bloco de Esquerda não facilitou. Catarina Martins quis mais esclarecimentos sobre a criação de um banco mau que concentrasse todo o crédito mal parado em Portugal. Não bastou. Ainda provocou o primeiro-ministro com as “falhas graves” do Governador do Banco de Portugal, para perguntar “quando é que uma falha grave serve para destituir o governador?” Costa manteve-se tão genérico como já tinha sido. Continuou a dizer que defendia “um veículo, um instrumento”, que permitisse resolver a situação da banca, de modo que esta libertasse dinheiro para a economia real. Mas rejeitou a ideia de injetar dinheiro público. Não foi mais longe. Quanto ao governador, disse que esperava pelas “conclusões da comissão de inquérito”. Nem mais uma palavra para atacar Carlos Costa. No final do debate falaria de forma contida sobre o tema aos jornalistas. Mais Mostrou-se disponível para dar todas as informações que o Governo tem à comissão de inquérito do Banif, mas deixou o recado: “A culpa não pode morrer solteira”.

Quando começou o fogo pesado dos adversários — embora Pedro Passos Coelho não tenha falado durante o debate –, surgiram as polémicas da semana. Luís Montenegro, líder da bancada do PSD, levantou o caso do estatuto de Lacerda Machado, o consultor informal do Governo e qualificou as explicações do primeiro-ministro como “conversa de café”. Se António Costa avisou os ministros para não falarem em público como se estivesse à mesa do café, Montenegro perguntou se, ao dizer que “tinha ao seu lado o melhor amigo numa negociação”, não era também “conversa de café”. A seguir, acusou o Governo de opacidade, por não responder a perguntas dos deputados, por recusar as audições parlamentares de João Soares (o ministro da Cultura que se demitiu), ou do Chefe do Estado-Maior do Exército que também caiu esta semana. “Também vai inviabilizar a audição do ex-secretário de Estado do Desporto e Juventude e que disse não se rever na vossa forma de fazer política?”, questionou o social-democrata. Não teve resposta.

No entanto, para o caso Lacerda Machado, Costa vinha preparado para divulgar publicamente o contrato do advogado e consultor. “Está concluído e publicado na base de dados da função pública e trago uma versão impressa para que não haja dúvidas sobre o contrato”. Não deu, porém, explicações que justificassem a contratação do “amigo”: “Nada mais tenho a acrescentar ao que disse nessa entrevista” ao DN e à TSF.

Costa: “Perspetivas de crescimento não são boas para Portugal”

Assunção Cristas, ainda à procura de um registo — longe da assertividade de Paulo Portas –, conseguiu obter as respostas mais concretas. Perguntou pelas perspetivas de crescimento, tendo em conta as revisões em baixa do FMI e da Universidade Católica. Costa reconheceu as consequências tendo em conta o quadro da economia mundial: “As perspetivas de crescimento não são boas para Portugal”. Abriu ainda uma janela sobre o Programa de Estabilidade, que terá de ser enviado para Bruxelas até ao fim do mês: “O Programa de Estabilidade tem de assentar em perspetivas realistas. Em matéria de previsões convém não ser voluntarista, convém ser previdente e conservador”. O primeiro-ministro está a preparar terreno para apresentar um documento menos ambicioso do que foi o Orçamento do Estado original.

Cristas quis ainda saber se, perante as más notícias económicas, o Governo ia aumentar o IVA, como parte de um plano B de austeridade. Costa foi definitivo: “Não vale a pena alimentar o papão do IVA”.

O PCP foi mais suave do que o Bloco. Jerónimo de Sousa não interveio com a mesma agressividade de Catarina Martins. O secretário-geral do PCP fez tábua rasa das polémicas da semana e focou-se na necessidade de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e nas limitações impostas pela União Europeia: “Alguém consegue explicar que o dinheiro público acuda a banca privada e as malfeitorias dos banqueiros, e não possa servir para recapitalizar o banco público? É uma aberração”. António Costa concordou. Prometeu que a CGD continuaria 100% pública e garantiu fazer tudo o que estivesse ao seu “alcance para assegurar a capitalização da CGD”. Hoje a geringonça esteve mais sólida com o PCP do que com o Bloco.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR