É mais um editorial do diário estatal Jornal de Angola a atacar Portugal que acusa de servir “de base para campanhas de mentira e desinformação contra Angola”. E a responsabilidade, diz o mesmo texto, “deve ser atribuída aos meios de comunicação públicos de Portugal e à meia dúzia de dirigentes políticos interessados na relação de conflitualidade entre os dois países”.

No texto são apontadas “algumas capitais europeias” que se constituem “como verdadeiras centrais de intoxicação. Os seus órgãos de comunicação atuam com uma agenda anti-angolana, pretendendo que nada mudou e que a situação geral do país só conhece retrocessos”. E diz mesmo que a comunicação social desses países tem optado “pela desestabilização política e social” no país, dando como exemplo o caso dos 17 ativistas políticos angolanos condenados a penas efetivas de prisão que vão até aos 8 anos, entre os quais o cantor Luaty Beirão: “Foi o que se viu com o processo dos indivíduos implicados em atos preparatórios de rebelião, um caso judicial normal em qualquer sistema de justiça mas que serviu como arma de arremesso contra os poderes públicos”.

Dias depois de conhecida a condenação, a Assembleia da República apreciou dois votos (do BE e do PS) de condenação à prisão dos ativistas políticos, que foram chumbados por PSD, CDS e PCP. O voto do Bloco de Esquerda pedia a libertação dos ativistas e os socialistas preferiram não aprová-lo, tendo-se abstido, ainda assim foram vários os deputados do PS a defendê-lo.

No editorial com o título “A imagem distorcida”, que defende que Angola fez progressos a nível económico e de democratização, queixando-se de “distorção” feita além-fronteiras. Mas o único país a que o jornal estatal aponta o dedo diretamente é Portugal que diz servir “de base para essas campanhas de mentira e desinformação contra Angola. Apesar de partilharmos a mesma língua e muitos aspetos da cultura de cada um, sente-se que os portugueses de uma forma geral não tratam os angolanos com o respeito com que nós os recebemos”. O jornal defende mesmo que “o país não está inacessível, até a julgar pela vaga de imigrantes que continuam a encarar Angola como uma terra boa para viver”.

Esta está longe de ser a primeira vez que o Jornal de Angola atira a Portugal, ainda no início deste mês um dos editoriais criticava a cobertura noticiosa na imprensa portuguesa ao programa de assistência então pedido por Angola ao FMI. Em março, o ataque a Portugal centrou-se na ação da Justiça, pela investigação que implica o vice-presidente de Angola. Manuel Vicente está indiciado por corrupção ativa no processo que decorre da Operação Fizz, que investiga a suspeita de luvas a um procurador do Ministério Público em troca do arquivamento de casos.

O Presidente da República tem saído em defesa do país, em algumas das intervenções que fez até agora. Ainda sobre o pedido de assistência ao FMI, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que “isso é positivo para Portugal. Isto aplica-se a Angola como se aplica a qualquer outra economia de qualquer Estado irmão da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). O que correr bem a esse Estado vai correr bem a Portugal”. O chefe de Estado e o primeiro-ministro, António Costa, vão visitar Angola “em breve”, de acordo com Georges Chicoti, ministro das Relações Exteriores de Angola.

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