O primeiro-ministro português, António Costa, louvou esta segunda-feira, em Paris, a importância da união de fronteiras e das “raízes humanistas” de Portugal, para o desenvolvimento da criação artística e da relação entre Portugal e França.

Durante a inauguração de duas novas salas na Casa de Portugal – André de Gouveia, na Cidade Universitária da capital francesa, António Costa destacou a passagem de artistas portugueses por Paris, como Amadeo de Souza Cardoso, Fernando Pessoa, Maria Helena Vieira da Silva e Joana Vasconcelos, assim como o papel de Calouste Gulbenkian e do pensador quinhentista André de Gouveia, na divulgação da cultura portuguesa.

“Nesta casa adotámos o nome de André Gouveia, um grande humanista português, antigo reitor da Universidade Sorbonne, que veio cá no século XVI”, declarou António Costa, em francês, acrescentando: “Algo liga Calouste Gulbenkian a André de Gouveia: pelo espírito uniram os homens e as fronteiras e foram mais longe pelo conhecimento.”

O primeiro-ministro lembrou a importância do cinquentenário da delegação portuguesa da Fundação Calouste Gulbenkian – cujo momento alto é a inauguração, esta segunda-feira, da exposição dedicada a Amadeo de Souza Cardoso – sublinhando que se trata de um “momento muito importante do ponto de vista simbólico, porque a fundação foi, durante 50 anos, uma ponte de ligação entre a França e Portugal”.

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“Calouste Gulbenkian não foi apenas o patrão da fundação, foi alguém que encontrou na Europa – em França e em Portugal -, a proteção e o refúgio de um arménio, em tempos difíceis para os arménios”, afirmou.

António Costa vincou que, quando Amadeo regressou a Portugal, após a estada em Paris, “levou consigo grandes artistas franceses que viveram em Portugal até ao fim da guerra, Sonia e Robert Delanay”, considerando: “Cada vez que abrimos as portas e as fronteiras ao conhecimento, à mistura e à descoberta da criação artística dos outros, tornamo-nos mais próximos”.

O chefe de Governo destacou que as salas inauguradas esta segunda-feira, na Casa de Portugal, foram batizadas com o nome de Fernando Pessoa e Maria Helena Vieira da Silva, “um grande poeta modernista, contemporâneo” e “uma grande pintora, uma pintora universal”.

“Amadeo de Souza Cardoso, Fernando Pessoa, André de Gouveia mostram bem as profundas raízes culturais de Portugal na Europa. Entre André de Gouveia e Fernando Pessoa houve quatro séculos. Entre André de Gouveia e Amadeo de Souza Cardoso houve quatro séculos. Portugal viajou muito nesse intervalo de tempo, mas manteve as raízes na Europa. São raízes humanistas de um Portugal que abriu fronteiras”, afirmou o primeiro-ministro português.

António Costa destacou, também, as atuais relações entre Portugal e França, “grandes parceiros do ponto de vista económico e cultural”.

“Cada ano há mais franceses que descobrem Portugal. É com um profundo orgulho que vejo que, em França, os portugueses são mais conhecidos, não apenas pela geração das mulheres e homens que chegaram nos anos 60, mas também pelo que os nossos artistas contribuíram para a cultura europeia”, disse.

O primeiro-ministro exemplificou com Joana Vasconcelos, que nasceu em Paris, “filha de um pai aqui refugiado” e que se tornou em “uma grande artista em Portugal, mas é também uma grande artista universal”.

António Costa discursou perante uma sala cheia, com mais de uma centena de convidados, entre os quais o ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, o ex-presidente do Centro Nacional de Cultura e do Tribunal de Contas, atual administrador da Fundação Gulbenkian, Guilherme de Oliveira Martins, o embaixador de Portugal em Paris, José Filipe Moraes Cabral, os antigos embaixadores de Portugal em Paris Francisco Seixas da Costa e António Monteiro, o embaixador de Portugal na OCDE, António Viseu Pinheiro, o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, o deputado socialista eleito pela emigração Paulo Pisco, entre muitas outras personalidades da comunidade portuguesa, em Paris, e residentes universitários.

O primeiro-ministro português irá esta segunda-feira, ainda, ao Grand Palais, na capital francesa, para inaugurar a exposição dedicada a Amadeo Souza Cardoso, organizada pelo organismo público francês Réunion des Musées Nationaux et du Grand Palais des Champs-Élysées, com apoio da Gulbenkian, que se enquadra-se nos 50 anos da presença da fundação em Paris.