A agência Fitch Ratings diz que está a nascer uma “nova divergência” na zona euro. Depois de os países chamados periféricos terem divergido do centro da Europa ao longo de vários anos, o que precipitou a crise europeia, é cada vez mais notória uma divergência entre esses países que foram mais fragilizados pela crise. Irlanda e Espanha estão a recuperar, ao passo que Portugal e Itália (e, claro, a Grécia) estão a ficar para trás. A Fitch dá quatro explicações possíveis para esta perigosa “nova divergência“.

Irlanda, Espanha, Itália e Portugal sofreram recessões económicas comparáveis mas “a recuperação entre os Estados-membros está longe de se poder considerar homogénea e, aparentemente, está a formar-se um novo padrão de divergência“. “A recuperação acelerou de forma significativa na Irlanda e em Espanha, superando o desempenho de Portugal e Itália, onde a recuperação continua muito gradual”, afirma a agência de rating num relatório publicado nesta segunda-feira.

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Fonte: Eurostat/Fitch

A Irlanda teve a maior recessão acumulada entre estes quatro países – 12,3% – ao passo que Espanha viu desaparecer 8,4% do produto interno bruto (PIB) nos anos da crise. Portugal perdeu cerca de 10% do PIB. Desde então, contudo, o PIB da Irlanda disparou quase 20% e o de Espanha aumentou 5% — cerca do dobro do que se verificou em Portugal.

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A Fitch nota que “a recuperação na procura interna foi, nos quatro países em análise, mais fraca do que a recuperação do PIB [globalmente entendido]”. Em todos os países, também, a recuperação do investimento também tem sido “fraca na zona euro, de um modo geral, o que evidencia a fraqueza do potencial de crescimento de médio prazo”.

Por outro lado, “as exportações cresceram de forma significativa nos quatro países”, sobretudo na Irlanda e Portugal.

As economias tornaram-se mais abertas nos quatro países, mas a abertura, medida pela soma das exportações e importações, em função do PIB, mantém-se em apenas cerca de 40% na periferia, com a exceção da economia ultra-aberta da Irlanda, que tem parceiros comerciais mais diversificados.”

“A menor abertura das economias de Itália, Espanha e Portugal implica que mesmo um crescimento elevado das exportações tem um impacto limitado na dinâmica de produção de riqueza nestes países”, diz a Fitch. A abertura da economia é, assim, o primeiro ponto que justifica esta “nova divergência”.

A segunda explicação avançada pela Fitch está ligada com o setor financeiro e ao investimento. “A resolução dos problemas de crédito malparado continua lenta, apesar de existir maior pressão para que esta acelere desde a criação do Mecanismo Único de Supervisão”, diz a Fitch. Ainda assim, apesar dos estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu, “as novas transações [de crédito a empresas e famílias] mantiveram-se em terreno negativo até ao final de 2015 nos quatro países”. A única exceção foi o crescimento do crédito às empresas em Espanha, que passou para o verde no final de 2015.

A Fitch sugere, também, que apesar de a política orçamental nos quatro países se ter tornado mais audaz, “com a exceção de Espanha, a política orçamental mais expansionista têm contribuído muito pouco para a recuperação”. A agência de rating nota, ainda que os quatro países registam uma divergência do crescimento potencial que coloca, em especial, Portugal e Itália como os países em que as últimas projeções de crescimento apontam para uma expansão menos animadora.