“Canta amigo canta, vem cantar esta canção. Tu sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão.” Carlos Alberto Moniz dava a música, ao vivo no Largo do Rato. E António Costa rodeava-se dos seus. Como qualquer festa de aniversário, a festa dos 43 anos do Partido Socialista teve de tudo: música, comida, gin, vinho, selfies, velhos amigos e promessas de um futuro melhor. A pequena Lilah Soares, neta mais nova de Mário Soares e filha do ex-ministro João Soares, subiu ao palanque para ler um poema de Sophia e serviu de mote para António Costa dizer que o PS está a olhar para o futuro.

“É para as Lilahs que o PS continua a existir”, disse, apontando para a menina de cabelos loiros que, do alto dos seus nove anos, tinha lido um poema de Sophia de Mello Breyner dedicado “aos militantes do PS”. Era a “neta mais nova” de Mário Soares, explicou Costa, filha do ex-ministro da Cultura que, depois de ter abanado o executivo com a sua demissão, não quis faltar à festa. “Porque a democracia é uma obra que nunca está acabada e podemos sempre melhorá-la” e a “batalha pela igualdade é permanente”, disse Costa, recordando que quando o PS foi fundado na cidade alemã de Bad Munster-eifel ele próprio tinha apenas 11 anos.

“É para a geração do João [João Torres, secretário-geral da JS] e da Lilah, é para os que estão a nascer e a crescer que continuamos a trabalhar”, disse.

Foi assim, entre amigos e fundadores do PS, dos tempos idos da cidade alemã de Bad Munster-eifel, que António Costa se mostrou otimista e confiante nos tempos que aí vem. Esta semana, o Governo enfrenta mais uma prova de força com a aprovação do Plano Nacional de Reformas e do Programa de Estabilidade com o cenário macroeconómico para os próximos quatro anos e, em dia de aniversário, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS quis deixar um presente aos militantes: ao contrário do que se tem dito, a aprovação do Plano Nacional de Reformas vai gerar “uma agradável surpresa”, por conter “não só medidas concretas, como quantificação de custos, metas de desenvolvimento e calendários definidos”.

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Os presentes que vêm de Bruxelas, de Washington, ou até de Angola, não têm sido os melhores para o Governo, mas sobre isso, isto é, sobre os apertos da Comissão Europeia para haver medidas adicionais ou sobre a eventual retaliação de Angola em função do BPI, nada disse. Em vez disso, o tom foi de otimismo. Ladeado da secretária-geral-adjunta, Ana Catarina Mendes, do presidente do partido, Carlos César, e do único ex-líder do PS presente na festa, Eduardo Ferro Rodrigues, Costa falou de democracia, de igualdade, modernização e esperança na juventude.

E atacou o último relatório da Comissão Europeia. “Quando vemos alguns cá dentro ou lá fora a dizer que não nos desenvolvemos aumentando o salário mínimo porque estamos condenados a viver na pobreza nós dizemos que não, não aceitamos isso”, disse, referindo-se aos recentes avisos de Bruxelas, nomeadamente ao último relatório pós-programa, divulgado esta segunda-feira, onde a Comissão pedia mais medidas de austeridade e afirmava que o aumento do salário mínimo nacional fazia aumentar o desemprego de longa duração.

Defendendo que o PS sempre foi “um grande partido reformista” assente nos valores da “social-democracia”, Costa sublinhou que é “esse o lugar do PS”, mesmo 43 depois. Ou seja, não é por neste momento estar associado aos partidos da esquerda que perde as suas raízes socialistas e europeístas. “Na ditadura, combatemos a ditadura, na busca pelo nosso lugar no mundo, escolhemos a Europa, na saúde e da educação, escolhemos garantir o acesso a todos”, disse, lembrando ainda o Rendimento Social de Inserção e o Complemento Solidário de Idosos para dizer que é esse o “lado certo” e o lado onde o PS ainda está.

No final, depois da música a lembrar o 25 de abril que se aproxima, a festa continuou no jardim do palácio no Rato, com comes e bebes e música pop de fundo. Como bons anfitriões, Ana Catarina Mendes partiu o bolo de aniversário e António Costa distribuiu aos convidados. Carlos César foi o primeiro. Seguiram-se os fundadores do PS, como Arons de Carvalho ou Bernardino Gomes, a quem Costa agradeceu. Só não se acenderam nem sopraram as velas porque o vento não deixou, mas houve brindes e selfies com a Juventude Socialista que, só por si, ocupava mais de metade do jardim.