O waterboarding — afogamento simulado — é um método de tortura que está longe de ser recente. Na idade média já era usada pela Inquisição e era recorrente na Inquisição espanhola. Este método era também usado pela CIA até ter sido proibida em 2009. Agora, Donald Trump garante que se for eleito Presidente dos Estados Unidos vai voltar a permitir este e outros métodos de “interrogatório” para lidar com suspeitos de terrorismo.

Num momento em que o uso de técnicas radicais de inquirição de suspeitos volta a ser debatido, o jornal espanhol ABC fez um levantamento dos métodos de tortura utilizados pela CIA, baseando-se em manuais da agência que explicam como levar os prisioneiros a um estado de submissão. As diretrizes incluem tortura física e psicológica que levam os suspeitos a revelar as informações que procuram.

Os métodos incluem a privação de comida e sono, o isolamento e choques elétricos. As técnicas mais frequentes são que levam os prisioneiros a perder a noção de tempo e espaço. A alienação do contexto em que se inserem leva a uma perda de noção de identidade e pode até fazer com que a pessoa regrida até um estado infantil. É assim que os interrogadores conseguem derrubar a “fortaleza mental” dos prisioneiros e obter confissões ou informações relevantes.

No início da década de 80, a agência norte-americana criou um manual de extração de informação a suspeitos e chegou mesmo a dar formação a autoridades de todo o continente, nomeadamente na América Latina. Este manual traçava alguns princípios que deviam ser sempre respeitados para que o interrogatório fosse eficaz.

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O primeiro desses princípios dita que o trabalho deve começar desde o primeiro momento, portanto, a detenção deve ser feita numa altura em que o suspeito esteja mais vulnerável. É por isso que a melhor hora para o fazer é de madrugada ou de manhã cedo. A essa hora geralmente estão a dormir e a surpresa de serem apanhados em sua própria casa deixa-os inseguros e fragilizados. O suspeito deve ser transportado com a cara tapada para que não tenha ideia de para onde está a ser transportado. Na prisão deve ter horários irregulares de alimentação para que não tenha noção da passagem do tempo. Assim, as refeições podem ter 10 minutos de intervalo num dia e várias horas noutro.

As ameaças são uma parte essencial para criar um ambiente de medo, mas há que geri-las bem, segundo o ABC. Uma das regras mais importantes é evitar as ameaças de morte, uma vez que não só são inúteis, como podem ser contraproducentes. Este tipo de ações ou são menosprezadas pelo suspeito, e isso faz com que perca o medo do interrogador, ou então, quando são levadas a sério, criam a noção de que se vai morrer independentemente do que se disser, por isso é indiferente revelar as informações. O que é essencial é fazer o réu crer que revelar as informações é fundamental para a sua sobrevivência. As ameaças mais eficazes são as que envolvem a família do prisioneiro. A coerência é muito importante. Quando se tortura alguém não pode haver momentos de tréguas, já que nestas alturas o indivíduo tem oportunidade de criar uma narrativa convincente que não seja verdadeira.

A ameaça de dor é mais eficaz do que a própria dor porque cria medo. Ainda assim, é importante cumprir as ameaças e explicá-las de uma forma racional para que não percam credibilidade. É preciso, no entanto, dosear bem a quantidade de dor infligida, já que quando é excessiva pode incitar a confissões falsas.

A lista de métodos de tortura utilizados pela CIA é extensa e inclui choques elétricos, privação sensorial (em que os suspeitos são impedidos de ver ou ouvir durante vários dias), torturas sexuais e isolamento.

Mas um dos mais polémicos é o afogamento simulado, ou waterboarding, que é de tal forma extremo que ninguém aguenta esta tortura durante mais que um minuto. Consiste em amarrar o prisioneiro, pôr-lhe uma toalha na cara de forma a tapar as vias respiratórias e derramar água (ou outro líquido qualquer) na zona da boca. É comum utilizar-se uma peça de metal para impedir que o suspeito feche a boca.

Esta e outras práticas apoiadas pela administração dos Estados Unidos foram denunciadas por ativistas pelos direitos humanos. Em 2009 o afogamento simulado foi proibido pelo governo norte-americano. Agora, este tipo de métodos de interrogação voltou a ganhar popularidade na campanha eleitoral republicana, já que o principal candidato – Donald Trump – confessou que pretende reintroduzir estas práticas nas prisões do país. A proposta insere-se num conjunto de medidas para proteger os Estados Unidos de ameaças externas de terrorismo. Outra das polémicas medidas apresentadas para o efeito foi a construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais, que Trump considera serem uma ameaça para a segurança interna do país.